Publicado originalmente no site Brasil de Fato
No último sábado (25), o crime da mineradora Vale em Brumadinho (MG), que matou 272 pessoas, deixou onze desaparecidas e contaminou a bacia do rio Paraopeba, completou um ano.
O rompimento da barragem 1 da mina Córrego do Feijão destruiu uma área de 300 hectares e deixou cerca de 1 milhão de pessoas, em 48 municípios da Bacia do Paraopeba, suscetíveis à contaminação por metais pesados pelo contato com os rejeitos de mineração.
Para entender um pouco do cenário que assola a região de Brumadinho, marcado pela escassez de água, a crise na saúde mental, o fim do turismo e desmonte das comunidades ribeirinhas, o Brasil de Fato entrevistou o engenheiro Mauro da Costa Val e o líder comunitário Jeferson Custódio.
Val denunciou o “regime de exceção” implantado pela Vale no local e alertou sobre a possibilidade de a região metropolitana de Belo Horizonte atravessar uma crise de abastecimento de água por conta da contaminação gerada pela mineradora. “O futuro do abastecimento de água está na bacia hidrográfica do rio Paraopeba.”
O especialista em águas denunciou ainda que água contaminada pela lama foi fornecida pela rede de abastecimento de cidades da rede metropolitana.
A questão da água também foi um dos temas abordados por Jeferson Custódio, presidente da Associação de Moradores do Córrego do Feijão, a comunidade mais próxima à Mina e com o maior número de óbitos – onde morreram 27 dos 415 habitantes.
Segundo ele, a mineradora tem utilizado água tratada do rio Paraopeba – “que não é própria para nada” – para umedecer as ruas da localidade e em obras de reparação, expondo os moradores novamente à contaminação.
O líder comunitário narra a longa trajetória de desrespeito da mineradora, que, ao contrário do que ele imaginava, ficou pior após o crime. “Ela continua mandando e desmandando no território, como se todo o território fosse dela”.
Custódio agrega que, sob pretexto de limpar o rio, a Vale está espalhando os rejeitos de mineração por terrenos em comunidades que não foram atingidas originalmente pela lama.
“A gente sabe que sozinhos somos pequenos. Essa noção de ser pequeno a Vale também tinha, porque senão ela não deixaria essa barragem romper no nosso território. Porque ela sabia o tempo todo que essa barragem ia romper, mas por ser Córrego do Feijão, um bairro rural, pequeno, ela deixou que acontecesse. Porque ali é um bando de trabalhador… ‘que direitos que eles vão ter?’, ‘que direitos que eles vão conquistar?’, resume.
Veja a entrevista completa: