Gaddafi nem sempre foi assim.
Quando ele tomou o poder na Líbia, em 1969, representava uma esperança de modernização num país cujos governantes eram corruptos, vendidos e ineptos. Desde cedo, Gaddafi deixou claro que não seria mais um joguete nas mãos dos Estados Unidos, ao contrário do Rei Idris, que estava no poder fazia 18 anos. Para os árabes, que vinham de uma derrota humilhante para Israel na Guerra dos Seis Dias em 1967, na qual os americanos tiveram um papel importante no apoio aos israelenses, foi um alento a troca no poder na Líbia.
O golpe de Estado aconteceu quando o rei fora à Turquia para tratar da saúde. Não houve derramamento de sangue, a exemplo do que se viu recentemente na Tunísia e no Egito.
Gaddafi, nos primeiros anos, melhorou consideravelmente a vida de sua gente. Investiu maciçamente em obras de infraestrutura, ampliou o acesso à educação e cuidou da distribuição de renda.
Onde ele se perdeu?
A melhor resposta que vi para isso foi num fórum que o site da BBC abriu para discutir a obra de Gaddafi. Muitas pessoas, sobretudo de países africanos próximos da Líbia, tinham visto no jovem Gaddafi uma esperança de que a semente da renovação se espalhasse. O tempo derrotou essa esperança.
“É aquela velha história: o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”, disse no fórum da BBC um africano desiludido que acreditou, no passado já remoto, numa influência positiva de Gaddafi.
Gaddafi velho é o oposto do que foi ou pareceu ser jovem.
Há um paralelo interessante, aí, com Fidel Castro. O Fidel da juventude inspirava admiração depois de ter derrubado uma ditadura suja apoiada pelos Estados Unidos. O Fidel da velhice desperta ojeriza, salvo em fanáticos. O poder absoluto o corrompeu absolutamente, como fez com Gaddafi.
É sempre assim.
“A democracia é o pior regime, excetuados todos os outros”, disse Churchill, o gênio conservador inglês que entre baforadas incessantes de charuto mostrou a Hitler na Segunda Guerra Mundial que os nazistas iam ter nos britânicos adversários que lutariam até a morte.
Churchill não poderia estar mais certo.