No Brasil onde todos os absurdos parecem possíveis, agora uma testemunha da CPMI das Fake News acusa uma jornalista da Folha de oferecer sexo em troca de uma matéria (“um verdadeiro furo de reportagem”).
Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário de uma empresa de disparo em massa e testemunha arrolada na CPMI das Fake News, que prestou depoimento na sessão desta terça-feira, atacou a jornalista Patrícia Campos de Mello:
“Quando eu cheguei na Folha de S Paulo, quando ela [a repórter] escutou a negativa, o distrato que eu dei e deixei claro que não fazia parte do meu interesse, a pessoa querer um determinado tipo de matéria em troca de sexo, que não era meu interesse”, mentiu ai ser ouvido no Congresso.
A Folha repudiou os insultos de Hans River e publicou documentos que comprovam a correção das reportagens sobre uso ilegal de disparos de redes sociais na campanha de 2018.
Não que seja possível duvidar da canalhice dessa gente, mas acusar uma repórter de se prostituir por um furo de reportagem é demais até pra eles.
Uma mulher não pode simplesmente ser competente: é claro que ela usou o corpo pra chegar onde queria, é claro que ela usa de sedução barata e ardilosa, porque a caixa de Pandora jamais foi fechada.
E o pior é que o Congresso Nacional é que serve de palco a baixarias como esta (e outras ainda piores), que desrespeitam não apenas a jornalista, mas toda a classe de mulheres comunicadoras.
Em razão dos insultos direcionados a Patrícia, jornalistas fizeram uma campanha de solidariedade à repórter.
Neste país de misóginos, nada mais reconfortante do que saber que as mulheres são capazes de se unirem em defesa de uma mulher atacada, mas é impossível não se perguntar: onde estavam as jornalistas brasileiras – e as mulheres sororosas de modo geral – quando um estádio de futebol inteiro mandou Dilma tomar no c*?
Onde enfiaram a sororidade quando tanques de gasolina traziam a foto da então presidenta de pernas abertas em uma clara alusão ao estupro e revistas comparavam-na a Maria, a Louca?
Me parece que a sororidade que tanto enche de esperança o coração das feministas menos calejadas é seletiva. Ou, no mínimo, permite-se injúrias e ataques contra determinadas mulheres quando sua posição política lhes torna “merecedoras.”
Um absurdo, mas contra Dilma pode.
Contra Manuela também, aquela comuna.
Foi no mínimo ingênuo pensar que o ódio e o machismo direcionados à Dilma naqueles anos difíceis resultariam em outra coisa senão a misoginia amplificada no congresso.
Aparentemente a gigante da sororidade acordou tarde demais.