FHC no Roda Viva

Atualizado em 2 de julho de 2013 às 8:07

Quando fala como sociólogo e não como político, compensa ouvi-lo.

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Vale a pena ver FHC no Roda Viva.

Quando fala como sociólogo, e não como político, FHC merece ser ouvido.

E no Roda Viva ele falou como sociólogo.

Algumas coisas me chamaram a atenção, e compartilho aqui.

Uma é que ele disse que continua a haver direita e esquerda, com todas as mudanças que houve no mundo nas últimas décadas.

Esquerda é, essencialmente, se bater pela justiça social e contra a desigualdade.

FHC lembrou Sérgio Buarque de Hollanda numa definição brilhante sobre os conservadores brasileiros.

O Marques do Paraná foi citado por alguém como um “conservador”. SBH retrucou: “Mas ele leu Burke? Ele na verdade é um atrasado.”

Os conservadores brasileiros não sabem quem é Edmund Burke, um conservador britânico de gênio.

E por isso são muito mais vinculados ao atraso do que ao conservadorismo.

Outro momento importante do programa foi quando FHC citou as sociedades nórdicas como exemplares e inspiradoras.

Alto desenvolvimento humano, uma rede de proteção social admirável. Por isso, os países nórdicos aparecem sempre na frente nos levantamentos de felicidade de cidadãos no mundo.

Para os leitores do Diário, não chega a ser novidade.

A Escandinávia está na missão do Diário: queremos para o Brasil uma sociedade nos moldes da escandinava – libertária, igualitária, feliz.

A base dessa sociedade está na chamada Janteloven, como nossos leitores já leram aqui tantas vezes.

Janteloven significa “Leis de Jante”.

Jante é uma cidade imaginária criada por um romancista escandinavo dos anos 1950, e nela a lei número 1 dizia: “Eu não sou melhor do que você e nem você é melhor que eu.”

O grande industrial e o lixeiro se igualavam, a despeito da diferença na conta bancária.

Isso se traduz na vida cotidiana de uma infinidade de maneiras.

Na educação, da qual tanto se fala hoje no Brasil, por exemplo.

Na Finlândia, está na Constituição que todas as crianças têm direito à mesma educação nas mesmas escolas, públicas aliás, não importa a situação dos pais.

Não existe escola de rico e escola de pobre. Isso sim é meritocracia. Você proporciona às crianças mais humildes o mesmo ensino, e elas têm oportunidade de construir o futuro em condições de igualdade com os filhos dos ricos (que vão para a cadeia se não pagarem as altas taxas de impostos destinadas a eles).

A Escandinávia está aí com suas lições há décadas.

FHC poderia ter olhado para ela quando foi presidente, e não para a Inglaterra de Thatcher – o oposto.

Mas agora pelo menos ele está falando dos países nórdicos.

A mídia continua surda: ele foi interrompido pela ignorância estridente dos entrevistadores enquanto falava da Escandinávia, e imediatamente o assunto mudou.

O silêncio da mídia se explica, em parte, por isso: a falta de informação dos jornalistas.

A outra parte é que os donos das empresas de comunicação abominam um sistema em que não mamam no Estado, e no qual teriam que pagar impostos.

(Veja agora o caso Globo versus Receita Federal.)

Mas enfim.

Os países nórdicos parecem ter chegado à agenda da elite política.

E isso é animador para o Brasil.