Publicado originalmente no site do Brasil de Fato
POR IGOR CARVALHO
A noite inaugural do carnaval paulistano, sexta-feira (21), foi marcada por homenagens a personalidades negras importantes, que ajudaram a construir a história do país, e por manifestações políticas contrárias ao governo de Jair Bolsonaro.
Responsável por abrir os desfiles, a Barroca Zona Sul levou à avenida o enredo “Benguela…a Barroca clama a ti, Tereza”, que homenageou Tereza de Benguela. Líder do Quilombo do Quariterê, ela desafiou a Coroa e o sistema escravocrata português por mais de 20 anos, comandando a maior comunidade de libertação de negros e indígenas da capitania de Mato Grosso.
Em seguida, a Tom Maior exaltou grandes heróis negros da história brasileira cantando o enredo “É coisa de preto”, que propõe uma reflexão sobre a expressão racista. Pelas alas da escola, homenagens e referências aos artistas Ruth de Souza, Mano Brown, Grande Otelo, Madame Satã e Mussum e a vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018, que teve um carro alegórico em sua homenagem, mostrando que as ideias da parlamentar nunca foram silenciadas.
Homenageando os Doutores da Alegria, ONG que atua em hospitais, a Dragões da Real, atual vice-campeã do carnaval paulistano, colocou na avenida seu enredo “A revolução do riso: A arte de subverter o mundo pelo divino poder da alegria”. Em seu desfile, a escola de samba pediu que nos momentos de agonia, usemos a alegria. A agremiação também lembrou de humoristas que enfrentaram a ditadura militar, como Millôr Fernandes, Jaguar e Ziraldo.
Atual campeã, a Mancha Verde fez um discurso politizado ao mostrar em “Pai, perdoai, eles não sabem o que fazem”, o erros cometidos por líderes mundiais em nome de Jesus. Sobrou para o governo brasileiro. Teve fantasia de trabalhadora doméstica com passaporte, em alusão às declarações do ministro da Economia Paulo Guedes, que afirmou que as profissionais têm ido muito à Disney. Além de uma ala chamada “primavera feminista” e outra que criticava a obrigatoriedade de meninas vestirem rosa e meninos vestirem azul, slogan criado por Damares Alves, ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos do governo de Bolsonaro.
“O ponteio da viola encanta…Sou fruto da terra, raiz desse chão, canto Atibaia do meu coração”. Esse é o nome do enredo da Acadêmicos do Tatuapé, que contou a história de Atibaia, município a 70 km da capital paulista. Sem empolgar, a escola celebrou a diversidade da fauna e flora da cidade. No carro que representava o café, uma especialidade da região, a agremiação espalhou o cheiro da iguaria pela avenida.
Atrás do tetracampeonato do carnaval paulistano, a Império de Casa Verde apresentou o enredo “Marhaba Lubña”, que quer dizer “Olá, Líbano”. O país árabe foi o tema da escola de samba, que abusou da tecnologia e fez um desfile com o dia já amanhecendo. Durante a passagem na avenida, a agremiação apresentou fatos históricos desse povo secular e levou 150 libaneses para desfilarem.
Com a ausência da Vai-Vai, Nenê de Vila Matilde, Camisa Verde e Branco e Leandro de Itaquera, que vão disputar o grupo de acesso do carnaval de São Paulo, posto de escola tradicional ficou com a X-9 Paulistana, que levou o enredo “Batuques para um rei coroado” para a avenida. Para explicar o poder do batuque no Brasil, a agremiação passeou por diversos ritmos, como Xaxado, Maracatu e Samba. Além disso, abriu espaço para uma homenagem às festas de São João e do Divino.