O jornal Estado de S.Paulo afirma estar sendo alvo de uma “milícia virtual que migrou para o Judiciário”, composta pelo escritor Olavo de Carvalho e mais seis “influenciadores” que compõem a rede de apoio que o presidente Jair Bolsonaro e seu entorno mantêm nas redes sociais. Para se defender de tais ataques, o periódico paulista usa como exemplo as mentiras e ataques que sofreu – por parte do mesmo grupo – o então candidato a presidente Fernando Haddad (PT) durante as eleições de 2018.
É o que consta no Processo número 1011550-51.2019.8.26.0020, movido por Olavo de Carvalho na 4ª Vara Cível da Justiça de São Paulo. Nele, o escritor pleiteia uma indenização por danos morais de R$ 45 mil, a ser paga pelo jornal e pelo repórter José Fucs, em virtude de uma reportagem que Carvalho afirma ser inverídica ao tê-lo ligado a uma rede de difamação de críticos do governo federal, chamada na reportagem de “milícia virtual”.
Ao contestar a versão do escritor no âmbito do processo, os advogados do Estadão afirmam que a tal milícia agora atua não apenas nas redes sociais, mas também por meio de ações judiciais integradas, que teriam o objetivo de minar a capacidade do periódico de fiscalizar o Executivo federal. Segundo os representantes do veículo, a estratégia seria a interposição de uma série de ações judiciais, todas originárias de uma só causa inicial.
“Essa estratégia agressiva, antes limitada à atuação da militância nas redes sociais, agora foi transportada para o Judiciário, numa ofensiva coordenada contra o repórter e o veículo de comunicação. Até o momento somam-se sete ações, nas quais se pede ora indenização, ora a censura à matéria jornalística, patrocinadas por dois escritórios de advocacia distintos e distribuídas em três Estados da Federação”, reclamam os advogados do Estadão.
Os representantes do jornal dão os nomes dos supostos membros da “milícia no Judiciário”: “São autores dessas demandas os “influenciadores” Allan Lopes dos Santos(ALLAN SANTOS), Leandro Panazzolo Ruschel (LEANDRO RUSCHEL), Luís Fernando de Moura Cagnin (NANDO MOURA), Olavo Pimentel de Carvalho (OLAVO DE CARVALHO, ora Autor), Paula Marisa Carvalho de Oliveira (PROFª. PAULA MARISA), Paulo de Oliveira Enéas (PAULO ENÉAS) e Pedro Henrique Martins Medeiros (PEDRO HENRIQUE MEDEIROS).”
Ao longo de toda a sua defesa, que tem 34 páginas, o Estadão busca explicar que suas reportagens se baseiam apenas em fatos, e que é ele, o Estado de S.Paulo, quem está sendo vítima de ataques e mentiras proferidas pelos supostos membros da “milícia”.
Para provar sua tese, o jornal busca traçar um padrão de comportamento ofensivo e mentiroso por parte da suposta milícia. Segundo o Estadão, a mesma prática ilícita que agora é utilizada contra ele já foi empregada contra o então candidato a presidente Fernando Haddad (PT), ao longo do ano eleitoral de 2018:
À época das eleições de 2018, o Autor (Olavo de Carvalho) teceu crítica sobre livro escrito por FERNANDO HADDAD, dizendo que o petista “defende a tese encantadora de que para implantar o socialismo é preciso derrubar primeiro o ‘tabu do incesto’” e que “homem quer que os meninos comam suas mães” (DOC. 20). Embora não passasse de fake News (DOC. 21), a afirmação do Autor teve grande repercussão, sendo compartilhada por CARLOS BOLSONARO28, inclusive (DOC. 22).
Dias após publicar a falsa informação acima descrita, o Autor voltou a atacar o petista, dizendo que o FERNANDO HADDAD é “um monstro de frieza e premeditação” (DOC. 23 ).
A postura do Estadão perante os fatos quando se vê em necessidade de defender seus direitos na Justiça, expondo voluntariamente a diferença entre uma candidatura que atacava e mentia, e outra que era vítima desses ataques, é bastante diferente da que adotou durante o período eleitoral.
No dia 8 de outubro do ano passado, quando se iniciava a corrida do Segundo Turno, o periódico publicou um editorial afirmando que o eleitor estava diante de uma escolha “muito difícil”, alegando que Haddad e Bolsonaro eram igualmente radicais e perigosos.
Será mesmo? Ao que parece, quando se trata de defender seus interesses na Justiça, o próprio jornal acha que não.