“Acordão” é a tendência de hoje no Congresso. Por Fernando Brito

Atualizado em 3 de março de 2020 às 9:34
Rodrigo Maia, Jair Bolsonaro e Davi Alcolumbre. Foto: Reprodução/Tijolaço

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Não acredite demais em que o Congresso vá endurecer o jogo na votação de hoje sobre os vetos de Jair Bolsonaro à ampliação do Orçamento impositivo.

O governo oferecerá o esvaziamento ou mesmo o cancelamento dos atos previstos para o dia 15, aos quais chamei de “Marcha de Itararé”, em homenagem a batalha que não houve.

Fica na condição também de “Itararé” a reação do Parlamento ao espasmo autoritário (mais um e não o último) do presidente.

Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, com um pouco mais de cara feia, ficarão com um discurso de responsabilidade diante da crise e com um belo naco da parte não comprometida do Orçamento para os parlamentares, além da promessa de mais um pouco do que acordarem ceder, à medida em que seja possível.

Farão algumas declarações formais sobre a independência do Legislativo e de defesa da institucionalidade e jogarão panos mornos na crise provocada pelas ameaças ao Congresso e ao STF.

Tales Faria, no UOL, resume a ópera:

Todos negarão publicamente um acordo. O presidente da República, porque diz não ter, nem exercer poder sobre a manifestação do dia 15. Alcolumbre, Maia e Toffoli, porque não querem admitir que estariam cedendo a uma pressão dos bolsonaristas.

Este é o plano: a ordem, no governo é calar a boca e deixar que a matilha faça o serviço nas redes sociais, com seus memes de super-heróis e vilões à altura de adolescentes furiosos .

Claro que tudo pode desandar, porque o espírito de molecagem está dentro do Palácio e da família do presidente, e não é pouco.

Hoje, na Folha, diz-se que setores o PT teriam se irritado por Lula não ter entrado na grita pelo impeachment de Bolsonaro.

É óbvio que o ex-presidente, com a experiência e o peso que tem, sabe que não pode se comportar como um líder estudantil e tem de pensar a construção – ainda distante – de uma força capaz de reverter – e será difícil – os anos de destruição da politica e da transformação do “mata e esfola” como consigna da política brasileira.

A destruição dos partidos políticos tornou tudo um pântano de varejos. Câmara e Senado são dirigidas de forma totalmente personalística, tanto que seus presidentes são de um partido que tem 5% dos deputados e pouco mais que isso de senadores. Dependem, portanto, da permanente cooptação de parlamentares.

Enquanto não houver lideranças capazes de catalisarem os difusos anseios da população esse será o quadro.