Com dívida milionária no Ibama, Amado Batista dá uma força a Bolsonaro e convoca público para ato golpista. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 11 de março de 2020 às 12:45

Apoiador de Jair Bolsonaro, o cantor Amado Batista tem dificultado a vida dos fiscais do Ibama, que querem cobrar dele multa milionária por desmatamento ilegal, mas não conseguem, apesar da agenda pública do cantor.

Reportagem do Intercept mostra que os encarregados de lhe entregar as multas relatam sempre que não o encontram.

Mas não seria difícil.

Bastaria ir a um dos shows do cantor e lhe entregar o auto de infração. No próximo sábado, dia 14, Amado Batista fará show em São Bernardo do Campo, na Associação dos dos Funcionários Públicos. Fica a dica.

O mais provável é que ninguém vá, para não se indispor com o cantor e com Jair Bolsonaro. Os dois fazem parte do mesmo grupo político, o grupo que quer tirar os fiscais “do cangote” dos produtores rurais.

Amado Batista, por sinal, é uma das celebridades que estão convocando a população para o ato golpista de domingo. Em vídeo que circula na internet, ele diz:

“Nas ruas em favor do Brasil, em favor da liberdade, em favor do nosso capitão presidente. Aliás, nós o elegemos para isso, para que ele pudesse dar um novo rumo a este país, para que virasse um país de primeiro mundo, que é o que todos nós sonhamos. Mas, infelizmente, tem vários corruptos travando a vida do nosso presidente. Nós precisamos estar nas ruas em favor dele.”

Amado Batista certamente não desconhece que, em países de primeiro mundo, é esperado que multas por violação ao meio ambiente sejam pagas.

Para o cantor e outras 4.600 pessoas que moram no Brasil e têm atividade rural, o que vale na Europa, nos Estados Unidos ou mesmo na Austrália não significa nada por aqui.

A estratégia deles para driblar a lei foi contada pelo repórter Leonardo Fuhrmann, autor da reportagem publicada no Intercept e realizada em parceria com o site De Olho nos Ruralistas:

Único cantor conhecido a fazer parte da lista de autuações milionárias por devastação, Batista guarda algumas semelhanças com outros mega multados pelo Ibama. A mais notável é a dificuldade de ser citado para responder pelas infrações: centenas deles só foram notificados por editais, publicados no Diário Oficial, depois de vencidas as outras formas de comunicá-los sobre os procedimentos e prazos de defesa. Com o julgamento à revelia, quando o réu não está presente, eles ganham tempo em busca de uma prescrição e criam argumentos para adiar alguma decisão da justiça ou recorrer dela. Não por acaso, apenas 3,3% das multas ambientais foram pagas desde 1980.

O Ibama tenta cobrar de Amado Batista uma multa de R$ 1,24 milhão por desmatamento em sua fazenda em Cocalinho, na divisa do Mato Grosso com Goiás, em 2014. O município, na região do rio Araguaia, tem um dos maiores índices de desmatamento no estado, relacionado à pecuária.

Outro fazenda do cantor, a Sol Vermelho, usada para engorda de bezerros, já havia sido alvo de uma ação criminal da Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público do Mato Grosso por “grave dano ambiental provocado nas áreas de preservação permanente e de reserva legal”, segundo a reportagem.

Desejoso de um país de primeiro mundo, pelo menos da boca para fora, Amado Batista tem um passivo que o leva para o quarto mundo. Na fazenda Sol Vermelho, um funcionário morreu quando colocava cerca, e Batista foi condenado a indenizar a família em R$ 60 mil.

O Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região entendeu que ele não ofereceu os equipamentos de segurança, os materiais nas especificações corretas nem o treinamento adequado ao trabalhador.

Sucesso como compositor e cantor, Amado Batista precisa melhorar como produtor rural a para ajudar o país a chegar ao primeiro mundo. Mas, como muitos outros, ele acha que o problema são sempre os outros.

A culpa pelo atraso é dos “os corruptos travando a vida do nosso presidente”.

E quem segura a execução da multa do Ibama seria o quê? Honesto?