“O que nos causa apreensão é não ter uma segurança pra pagar as contas”, é o que diz Maxwel Medeiros, motorista de aplicativo que viu suas corridas diminuírem de 25 por dia para 5 no início da crise do coronavírus.
Por conta da quarentena, ele não está trabalhando, e a esposa e o filho dependem exclusivamente de sua renda.
“Minha situação é de desespero, parei de trabalhar pra não me contagiar e também proteger a minha família. Vai prejudicar muito a minha vida. Tenho filho pra criar e meu maior medo é não ter dinheiro pra comprar comida”.
Nessa situação, Maxwel tenta, sem sucesso, conseguir empréstimos em bancos e pedir dinheiro emprestado aos amigos para tentar “segurar por três meses”.
Enquanto isso, as contas batem na porta e ele tenta renegociar suas dívidas, também sem sucesso.
“A sociedade não vê um movimento do governo em subsidiar as contas básicas”, reclama.
Maxwel não está sozinho no grupo de prejudicados pela pandemia do coronavírus, Saulo Campanharo possui um restaurante com a família e, por conta da quarentena, teve de adaptar o negócio para entrega e retirada de comida no local.
Ele conta que a falta do “movimento de salão” prejudica sua renda. Além disso, prevê uma queda da demanda empresarial, pois seu negócio presta atendimento a empresas que também estão de quarentena.
Por sorte, o jovem possui uma segunda atividade remunerada: trabalha num escritório autônomo de cobranças. Mas essa atividade também foi prejudicada pela crise.
“Economicamente falando, é complicado. Afinal, tirei uma renda a mais. Confesso que vai apertar o orçamento e, com a crise do dólar, os produtos ficam mais caros”, diz.
Desesperançoso com o governo, Saulo agradece ao Ifood pela assistência dada “para ajudar os comerciantes menores a sobreviver a essa situação”.
Já Maxwel tenta depositar alguma esperança no Estado:
“Quem sabe o governo olhe com mais carinho para o povo”.
“Essas pessoas estão completamente desassistidas”, de acordo com Rogerio Tineu, que é Bacharel em Ciências Econômicas e Doutor em Ciências Sociais.
“A equipe econômica ainda está atrapalhada nas medidas, eles não têm um plano claro”, afirma.
Segundo o IBGE, 38 milhões de brasileiros estão na situação de Maxwel e Saulo.
O Senado aprovou nesta segunda-feira a concessão de um voucher de R$ 600 mensais para os próximos três meses. É três vezes mais o que Paulo Guedes anunciou há cerca de duas semanas.
Para Tineu, a proposta anterior, de R$200, não daria para resolver a vida de ninguém. “É estado de indigência, é a linha de miserabilidade. Tecnicamente, a equipe econômica está pensando que o crédito sai dos bancos. Então, se um banco quebra, ele pode levar todo o sistema de crédito a uma bancarrota. Mas é desproporcional”.
Com R$ 600, ainda não será possível fazer frente às despesas da maior parte dos trabalhadores informais.
Tineu ainda reprova a MP 927, também chamada de “MP da morte”, que, por conta de críticas, teve um item revogado por Bolsonaro logo após ser anunciado. Os patrões poderiam pagar qualquer quantia para funcionário durante o período da quarentena.
“Essa suspensão de contrato de trabalho privilegia somente o empregador. Não estou indo contra o empregador, claro que você precisa manter essas empresas, mas não às custas do trabalhador. Aí que deveria ter um programa do governo de compensar essa perda salarial”.
Evidentemente, o governo está mais preocupado com os empresários do que com o povo, vide a fala de Guedes, que desaprova a quarentena porque “se fica todo mundo em casa, trava a economia toda”.
No entanto, ele se esquece que o consumo das famílias é o grande motor da economia e representa 65% da composição do PIB.
Por isso, Tineu defende a assistência dos profissionais autônomos, informais e do pequeno empreendedor:
“O governo brasileiro está olhando o lado do empresário, mas ele está se esquecendo de gerar uma renda para que essa economia não pare por completo”.