“Me pediram autorização para deixar meu pai morrer por falta de ventiladores”, diz executivo espanhol

Atualizado em 28 de março de 2020 às 17:07
Óscar Haro e seu pai

Bolsonaro: “A Itália se parece com Copacabana, onde em todos os edifícios há uma pessoa idosa ou uma casal de idosos. É por isso que são muito frágeis e muitas pessoas morrem. Elas têm outras doenças, mas dizem que morrem de coronavírus “.

Roberto Justus: “[O vírus] não vai matar ninguém na favela. Vai matar velhinho e gente já doente”.

Uma sociedade doente como a brasileira pariu uma gente com absoluto desprezo por idosos. Por terem mais idade, merecem morrer.

São dispensáveis. Como já estavam com o pé na cova, a pandemia vai apenas terminar o serviço.

Bolsonaro, Justus, o dono do Madero acham que podem escolher quem vive e quem morre.

Fica mais fácil quando o “velhinho” é uma entidade abstrata. Mas e quando for a mãe de um deles? A tia? A avó? A irmã?

Oscar Haro, diretor da equipe de motociclismo da Honda, usou as redes sociais para revelar a forma trágica como o seu pai morreu, vítima de Covid-19.

Ninguém devia morrer sozinho. O meu pai começou a trabalhar aos 15 e só parou aos 65. Nunca pediu nada. Na quarta-feira, ele precisava de um ventilador para não morrer e eles negaram-no.

O médico chamou-me, em lágrimas, para me pedir permissão para o deixar morrer.

Esta é a Espanha que temos. Estamos a deixar morrer estas pessoas. A minha mãe está fechada em casa, sem que possa abraçá-la, beijá-la, consolá-la. Também acusou positivo e não quer ir ao hospital, porque tem medo que a deixem morrer», contou Haro.

Na segunda-feira, o meu pai e a minha mãe testaram positivo para o coronavírus. Levei-os às urgências. Não voltei a ver o meu pai. A minha mãe pediu para receber alta porque queria cuidar do meu pai. Isolaram-no até morrer, na sexta-feira. Não entendo por que razão morreu.

Não entendo como uma pessoa que trabalha desde os 15 anos, sempre a descontar para pagar impostos, morre porque não há ventiladores, porque não o podem continuar a tratar, pois há uma lei que diz que com mais de 75 anos já não interessa cuidar das pessoas e deixam-nas morrer. (…)

Só sei que vejo dinheiro por todos os lados, como sempre, e que estamos a deixar morrer uma geração que fez este país sair da guerra, que trabalhava 16 horas por dia para alimentar os seus filhos e criar uma família.

Famílias com quatro ou cinco filhos, como a minha que vivia num apartamento com 60 m2 e uma casa de banho, mas onde nunca faltou amor. Não como agora, que temos um ou dois filhos porque somos egoístas.

Vejo o meu pai morto, a minha mãe fechada em casa e não posso pegar na minha filha porque tenho medo, pois ela só tem três semanas.

Não entendo por que o meu pai não vai poder levar a neta a ver a sua horta. Dei a volta ao mundo umas cem vezes, vivi em muitos países e garanto que temos o melhor país do mundo. Mas vamos cuidar dele, por favor.