Sabe o que você aprende sobre a tragédia do Realengo vendo tantas dissertações sobre abusos de crianças sobre outras crianças, o bullying?
Nada.
Sempre houve. Sempre haverá. Isso é tão típico de crianças quanto pipoca e carrossel.
Se quem sofre de gozações na infância reagisse como o lunático de Realengo, o mundo estaria bem próximo do despovoamento.
Você sai do ambiente protegido de sua casa e, nas rodas de crianças, está sempre sujeito a ser alvo de chacota. Por causa dos óculos, ou do peso, ou do nariz, ou do penteado, ou do sotaque.
Ninguém escapa, em um ou outro momento. É, quase sempre, nosso primeiro contato com o mundo como ele. Na maior parte das vezes, aprendemos muito. Não seremos tratados, pelos outros, como nossa mãe e nossa avó nos tratam.
Tenho na lembrança meu amigo Banus, forte e doce. Um baixinho — como são bons os baixinhos para espezinhar os outros — o fazia de bobo na infância. Até o dia em que o Banus o levantou pelo colarinho. Não tivemos que intervir porque sabíamos que o Banus não daria um único tapa no baixinho.
O assassino do Realengo acabaria derramando sangue por algum outro motivo que não suas experiências escolares. Louco é louco. Nos vídeos, ele dividia o mundo entre os bons e os maus – todos nós, aparentemente.
Ele tinha um distúrbio mental. Era um perseguido, em sua cabeça. E isto o autorizava a vinganças. Era um caso perdido, um maluco tão extremado que se julgava puro e bom mesmo matando crianças.
O que não podia ter acontecido é armas pararem tão facilmente em suas mãos ávidas por apertar o gatilho contra inocentes.
Que se aperte o cerco contra as armas.
Ontem vi uma reportagem que gostaria de ver no Brasil: o caminho de uma arma. A BBC mostrou todos os proprietários de uma arma que acabaria matando uma garota que estava “no lugar errado na hora errada”. É pedagógico, é útil entender como circulam as armas para diminuir seu potencial destrutivo.
Isso dá para fazer.
Entender a mente de um psicopata é impossível.