Jornalistas da Globo não são melhores do que ninguém, e deveriam fazer o que pregam: ficar em casa. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 10 de abril de 2020 às 22:15
Marcelo Cosme, Lauro Jardim e Renata Ceribelli

Os jornalistas da Globo estão sendo caçados em suas saídas de casa. Primeiro foi Renata Ceribelli, depois Marcelo Cosme e agora aparece foto de Lauro Jardim caminhando pela praia.

Chamado de hipócrita, Marcelo Cosme deu a pior resposta que se poderia esperar de alguém que tem influência na opinião pública. “Eu não sou grupo de risco”.

Se todos os que se consideram jovens e saudáveis pensarem assim, amanhã as áreas públicas estarão lotadas.

Ao contrário do que diz Bolsonaro e agora o apresentador da Globonews, a quarentena não é apenas para idosos e pessoas que têm doenças como diabetes e hipertensão.

A quarentena é para todos, inclusive para aqueles que se consideram fortes o suficiente para não sucumbir ao vírus. Estes também são vetores. Contraem o vírus e passam para outros.

Não há medida em vigor que impeça alguém de sair de casa. Para isso, seria preciso decretar estado de emergência ou de sítio, o que necessitaria de aprovação pelo Congresso Nacional.

Como não estamos nesta fase, o bom senso é que regula se alguém deve sair casa ou não. As prefeituras e os governos estaduais podem proibir a abertura de estabelecimentos comerciais, igrejas ou clubes, que necessitam de licença de funcionamento.

Mas não podem prender ninguém de casa.

Não podem baixar um decreto para impedir que alguém faça a sua caminhada ou corrida — que, a rigor, são importantes para manter a saúde, em tempo de coronavírus ou não.

Não podem impedir que alguém leve seu animal doméstico para um passeio na calçada.

O problema é o mau exemplo.

Se todos que se consideram fora do grupo de risco decidirem sair ao mesmo tempo para correr ou caminhar, haverá aglomeração.

O humorista Rafinha Bastos, que obedece a quarentena, desabafou domingo no Twitter, quando havia muita gente nas ruas de São Paulo.

“Um monte de fdp passeando de bicicleta e fazendo caminhadinha esportiva. Fico me sentindo um trouxa. É como se eu tivesse ajudado a esvaziar a cidade pra eles. Alguém tinha q sair por aí atirando merda nesse bando de pau no c…”, disse.

Os jornalistas da Globo, que martelam todos os dias ‘fiquem em casa’, deveriam ser os primeiros a não sair.

Ou, se fizerem isso, que se assegurem de que seja um horário morto, para não gerar aglomeração. E que evitem praias e locais mais movimentados. Se forem vistos e tiverem a imagem divulgada, como é o caso, todos se sentirão no mesmo direito, direito, aliás, que todos têm.

Se querem manter a forma física, o ideal seria fazer esteira em casa.

O braço-direito do Mandetta, João Gabbardo dos Reis, também foi flagrado em Brasília correndo. Ele é ultramaratonista e foi fotografo com a mulher.

Para se justificar, disse que não faz terapia e que correr é uma forma de organizar as ideias.

Todos podem dizer a mesma coisa, e amanhã haverá uma multidão em áreas públicas, com contato muito próximo.

Para a pessoa que vê essas celebridades ou subcelebridades em área pública, a revolta é compreensível, e fica a impressão de que está sendo feita de bobo. “Faça o que eu digo, não o que faço”.

Não dá.

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Se querem continuar caminhando ou correndo em áreas públicas, que aguentem as críticas. Independentemente de que as faça, são pertinentes.