Entre as figuras deploráveis da vida pública nacional, Osmar Terra é uma estrela em ascensão.
Médico, no sexto mandato como deputado do MDB, é cotado para substituir Luís Henrique Mandetta no Ministério da Saúde porque concorda, ou finge concordar, com o terraplanismo de Jair Bolsonaro na área.
Na última sexta-feira, a CNN Brasil divulgou um diálogo em que ele aparece conspirando com Onyx Lorenzoni, seu conterrâneo, contra Mandetta.
“Eu ajudo, Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser”, disse, simulando desinteresse.
A conversa foi gravada porque ele “esqueceu” o telefone ligado para o repórter da emissora, evidentemente com a anuência de Lorenzoni.
Terra defende a cloroquina no tratamento do coronavírus e é contra o isolamento vertical.
Cita dados incorretos, chuta, passa vergonha, é orgulhoso da própria ignorância — ou seja, preenche todos os requisitos para trabalhar em Brasília.
Sua história conta muito sobre até onde está disposto a ir.
Foi prefeito de Santa Rosa, no RS, entre 1993 e 1996, depois secretário de saúde no governo daquele estado, ministro do Desenvolvimento Social no governo Temer e da Cidadania de Jair Bolsonaro.
Foi demitido por causa de problemas na gestão do Bolsa Família e para acomodar Onyx, que causava problemas na condução da Casa Civil.
Saiu, mas não largou o osso. Essa é a marca de Terra.
Sua trajetória, da esquerda para a direita, é espantosa.
Sua companheira foi torturada pelo coronel Ustra, chefe do Doi-Codi, ídolo do presidente que Osmar bajula, nos anos 70, quando ele era comunista e ela era líder estudantil.
Monica Tolipan era monitora da escola Chapeuzinho Vermelho. Foi estudar Psicologia na PUC do Rio de Janeiro. Elegeu-se presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) em 1972.
“Ficamos confinados a uma cidadania de segunda classe durante muitos anos. Já nascemos com a insígnia do terror”, falou em 2013 na chamada Caravana da Anistia, do Ministério da Justiça.
O casal fugiu para Buenos Aires. De volta, mudaram-se para Porto Alegre e então para Santa Rosa, onde acharam que estariam seguros contra a ditadura.
Ela só conseguiu concluir a graduação em 1982. “Muitos colegas se referiam a mim como alguém que tinha se mantido na clandestinidade”, relatou.
“Votei no Osmar, pedi votos para ele, sempre apoiei e estive próximo. A decepção é muito grande”, disse à Zero Hora João Carlos Bona Garcia, um dos fundadores do MDB gaúcho.
“É lamentável ver pessoas como ele jogando sua história para o alto para ficar se aproveitando de nacos do poder”.
A barganha faustiana de Osmar pode render um ministério num governo de um debilóide fascista que não hesita em colocar os brasileiros em risco diariamente.
Um preço pequeno a pagar para Osmar Terra.