Publicado originalmente no Tijolaço
Por Fernando Brito
Quando, nos próximos dias, explodir o número de pessoas infectadas no Brasil pelo novo coronavírus, não se iluda.
Não é que a doença, que se expande velozmente, tenha dado um salto no ritmo já acelerado de contágios.
É que vão começar os testes, com a prometida chegada, até amanhã, de 450 mil reagentes moleculares, infelizmente o precaríssimo critério adotado pelo Ministério da Saúde para dimensionar a incidência de casos de infecção pelo vírus.
Até agora, sem eles, está se formando um imenso estoque de casos suspeitos que, amanhÃ, vão ser despejados nas estatísticas de “casos confirmados”.
Considerando apenas os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave que resultaram em internações hospitalares (veja tabela acima, do boletim epidemiológico oficial do MS) há praticamente sete vezes mais eventos suspeitos que os confirmados.
28 mil internações hospitalares é mais que a dobra dos registros atuais da pandemia e isso não inclui os casos leves, diagnosticados clinicamente que são mandados se isolar em casa
É evidente que, como as demais hipóteses infecciosas são pouco significantes diante do total – estão abaixo de 3% das internações totais – a imensa maioria destas internações em investigação são de problemas causados pelo vírus Sars-COV2.
O fato de Luiz Henrique Mandetta estar sendo uma barreira a que Jair Bolsonaro coloque um “terraplanista” na Saúde não o exime do dever de alertar a população para uma escala epidêmica que vai muito e muito além do que os números estão anunciando, numa subestimação inexplicável.
A manchete de O Globo, hoje, dizendo que Cientistas estimam que número de infectados no Brasil é 15 vezes maior que o oficial pode até ter algum exagero, aceitável em estimativas, mas não está mais distante da realidade que os números oficiais estão.
Pode ser até que alguns jornais e jornalistas achem que isso é politicamente ruim, pois enfraquece Mandetta.
Não é verdade, ele é quem se enfraquece ao não comunicar à população o tamanho do desafio que temos a enfrentar.
E isso é mais uma razão para não se deixar Bolsonaro colocar um “terraplanista” na Saúde.