Só a morte para fazer Renan Antunes de Oliveira parar de ser repórter. Por Vinícius Segalla

Atualizado em 20 de abril de 2020 às 7:45
Renan Antunes de Oliveira, de pé, em uma redação, sendo o que sempre foi

Na faculdade, lembro do jornalista Ricardo Kotscho em uma aula magna dizendo que só deveriam seguir aquela profissão aqueles que não tinham outra escolha, que de tal maneira se sentiam compelidos àquilo que seriam infelizes na vida se trilhassem qualquer outro caminho. Caso contrário, melhor seguir outra carreira.

Todas as vezes em que participei de uma live no DCM com o Renan Antunes de Oliveira, me lembrei dessa frase. O Renan era jornalista não apenas no sentido profissional, não apenas porque ganhava a vida apurando, escrevendo, reportando, opinando. Ele era jornalista por qualquer lado que se o visse.

Nas últimas semanas, talvez nos últimos meses, as pessoas que o amavam – não são poucas – tentaram que ele fosse um pouco menos jornalista por um momento, para que pudesse ser um pouquinho mais paciente de hospital, só por um momento, enquanto estava em tratamento, enquanto cuidava e recuperava sua saúde.

Essas pessoas sabiam muito bem que estavam em luta inglória. O Renan jamais deve ter cogitado na vida parar por um segundo que seja de ser jornalista. Sim, foi ao hospital. Lá, conversando com as enfermeiras, puxando papo e se informando com outros pacientes e com os familiares deles, colocava em prática sua pesquisa de campo que sustentaria as pautas e opiniões que levaria depois ao trabalho.

“Levaria depois ao trabalho” não quer dizer depois de deixar o hospital, quer dizer depois de apurar, de conversar com enfermeiras, pacientes, familiares, médicos. Daí participava da live, de sonda no nariz, com aquela bata azul de hospital, trazendo as últimas do front médico de combate ao Covid-19, semideitado em sua cama.

O Renan não deixou de ser jornalista por um minuto. Nos últimos meses, ou semanas, ele entrou e saiu do hospital mais de uma vez. Entre uma e outra, no dia 12 de abril, ele publicou uma reportagem exclusiva no DCM, apenas mais uma da série investigativa que estava produzindo e publicando com recursos advindos de um financiamento coletivo do canal, bancado pelos leitores.

Luciano Hang demitiu mais de 2 mil pessoas na Semana Santa“, contava o jornalista. Não foi a primeira que o Renan escreveu sobre esse empresário catarinense. Não digo que está, mas se tivesse alguém para estar feliz com a morte do véio do DCM, seria o véio da Havan.

O empresário estava irritadíssimo com o repórter, já o estava processando, não aguentava mais a série de reportagens. Um dia perguntei ao Renan se ele tinha tomado conhecimento do último processo que lhe movia Hang, ele disse que sim, tinha tomado. Perguntei se ele sabia que o empresário pedia R$ 150 mil em indenização, ele disse que sim, sabia o que Hang estava pedindo.

Perguntei se ele estava preocupado, ele disse que não, que tinha prova de tudo que tinha escrito, perguntei se ele cogitava parar com as denúncias, dar um tempo. Ele, primeiro, nem entendeu essa última pergunta, depois entendeu, daí riu, deu uma risada gostosa, devolveu a pergunta, “Eu vou parar, Vinícius?”.

Se existe um céu, ganhou hoje um belíssimo repórter.