Publicado originalmente no blog Tijolaço
Por Fernando Brito
Com liberdade e vida, desculpem, não dá para aceitar que a “livre expressão” legitime monstruosidades.
Não é legítimo dizer que se pode prender ou matar pessoas livremente ou incitá-las a exporem suas vidas a risco.
No mesmo dia em que surgem as imagens das valas coletivas para cadáveres em Manaus, na mesma hora em que se relata o esgotamento dos recursos hospitalares em grandes cidades e no mesmo instante em que crescem casos e mortes provocados pelo Covid-19, só no que falam nossas autoridades públicas é em reabrir o comércio e retirar as restrições de circulação de pessoas.
É, que triste, a manchete dos principais sites jornalísticos.
Nem mesmo a morte, nem mesmo o número de mortos, que já vai chegando a 3 mil, nada vence a lógica implacável do dinheiro, do consumo, do desprezo seletivo: pelos pobres, pelos idosos, pelos doentes, por todos aqueles que estão em situação de fragilidade, às quais não dão a mão em solidariedade, mas num tapa.
Não é possível que o jornalismo não perceba que está sendo instrumentalizado por esta onda egoísta e desumana.
Absolutamente não é uma questão de planejamento de quantos metros de distância na fila, ou no número de clientes por loja, ou de que os vendedores usem máscaras.
A questão essencial é que dezenas ou centenas de milhares serão postos a circular em transportes lotados, em meio a um caldo viral, a centímetros uns dos outros.