Publicado originalmente no RFI:
Por Adriana Brandão
Com a crise do coronavírus, e principalmente após o início da quarentena na França em 17 de março, o número de pedidos de auxílio no Consulado-Geral do Brasil em Paris explodiu. Entre as principais demandas está o pedido de repatriação seja de turistas que tiveram seus voos cancelados ou de residentes que querem voltar ao país. Após um primeiro avião fretado pelo governo no dia 17 de abril, não há nenhuma previsão de um novo voo subsidiado.
No último dia 17 de abril, o governo brasileiro fretou um avião para a repatriação de cidadãos da Europa. A aeronave posou primeiro em Londres e depois fez escala em Paris, onde embarcaram pessoas que estavam na França, mas também na Bélgica, Luxemburgo e Suíça. Ao todo, 320 brasileiros puderam voltar, sendo 48 que estavam no território francês. “O critério para a seleção feita por Paris foi prioritariamente turistas que não têm vínculo nenhum com a França, não conseguiram remarcar suas passagens e já não tinham mais onde permanecer. Nas vagas remanescentes, tentamos também contemplar residentes em situação de vulnerabilidade”, explica Pedro Gomides.
Os pedidos continuam a chegar “ininterruptamente” e aumentam a cada vez que a França anuncia a prolongação do confinamento. O número oscila, mas “no quadro atual existiriam aproximadamente 50 pessoas que se enquadrariam num caso de repatriação e que entraram em contato conosco, mas mais uma vez não há nenhuma expectativa (de um novo voo). Não dispomos de nenhuma informação de outra operação como a da sexta passada”, salienta o cônsul-adjunto chefe do setor de assistência a brasileiros.
Com o tempo, a demanda dos residentes superou a dos turistas, hoje residuais. “Muitas pessoas transmitido ao consulado situações de precariedade, pessoas com dificuldades para se manter, para pagar aluguel, com dificuldades também até domésticas”, aponta Gomides. As dificuldades enfrentadas pelos imigrantes econômicos vêm sendo alertadas pela associação Amis du Brésil que realiza uma campanha para a arrecadação e distribuição de cestas básicas na região parisiense. A associação tem ajudado mais de mil pessoas “que estão passando fome”.
O cônsul-adjunto estima que “o número de famílias precárias tende a crescer na medida em que o confinamento for prolongado e com a paralisação de vários setores econômicos essenciais a essas pessoas da comunidade brasileira”. Muitas famílias hesitam em procurar o consulado, inclusive por medo de deportação, e Gomides acredita que muitos casos só serão conhecidos mais tarde.
Liberação antecipada de presos
Outra fonte de preocupação são os cerca de 130 brasileiros detidos em prisões francesas, principalmente por tráfico internacional de droga. Com a pandemia, as famílias no Brasil começaram a entrar em pânico com medo da contaminação.
Após o anúncio do governo francês de uma liberação antecipada de detentos em final de pena para aliviar a superlotação nos presídios do país, o consulado começou a negociar a possibilidade de soltura de brasileiros. Há presos que poderiam ser beneficiados, mas até agora, nenhum deles foi solto. O cancelamento dos voos também dificulta essa negociação.
“Eles seriam beneficiados com a ‘liberação condicional expulsão’. Na medida em que saírem, seriam imediatamente expulsos da França em voo custeado pelo governo francês”, explica Gomides.
Consulado presta durante o confinamento na sede em Paris apenas os serviços “essencialíssimos”, como autorizações de retorno ao Brasil, que é o documento de viagem alternativo ao passaporte, e atestados de óbito. Desde o início da crise, cinco atestados foram emitidos, entre eles o de uma brasileira que morreu da Covid-19. A moradora da cidade de Sainte-Geneviève-des-Bois, na região parisiense, é até agora, pelas informações do consulado, a única vítima brasileira na França do novo coronavírus