O inimigo número 1 do governo Bolsonaro, hoje, é o ministro Celso de Mello, do STF.
Aos 74 anos, o decano se aposenta em novembro, cedendo lugar a um indicado “terrivelmente evangélico” do presidente.
É a única unanimidade entre os colegas, respeitado e ouvido por todos.
Quando Carlos Bolsonaro divulgou aquele vídeo canalha em que seu pai aparece como um leão cercado de hienas, uma delas identificada como o Supremo, ele foi firme.
A peça revelava “absoluta falta de ‘gravitas’ e de apropriada estatura presidencial”, afirmou.
“Também constituiu expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da república”.
Os ministros generais — Augusto Heleno, Braga Neto e Luiz Eduardo Ramos — estão arrolados como testemunhas no inquérito sobre a tentativa de interferência na Polícia Federal.
Em sua decisão, Celso afirma que, se não comparecerem na hora marcada, terão de fazê-lo “coercitivamente, ou debaixo de vara”.
Consideraram uma afronta, ainda que a determinação valha para os demais depoentes mortais. O Clube Militar acusou Celso de “falta de habilidade, educação, compostura e bom-senso”.
Heleno o ameaçou hoje no Twitter, em conversa com um bolsonarista que lhe cobrava uma “resposta à altura” com relação ao juiz.
“Tudo tem sua hora”, escreveu, enigmático.
O que isso significa? Vai torturar? Mandar um miliciano dar jeito?
Vai prender e arrebentar o velho?
Celso de Mello é um velho na melhor acepção da palavra. Do tipo que Bolsonaro quer ver morto, do tipo que ele despreza e quer ver ceifado pelo coronavírus ou por outra força.
Vai sair de cena com a distinção de enfrentar essa escumalha se valendo da Constituição — e mostrando que as hienas também usam fardas e comendas.