Uma das coisas de que mais gosto, nas grandes coberturas da BBC, é a seção que solicita, edita e publica a opinião de internautas.
O nome é “Have your say”. Mais ou menos, “Diga o que você acha”.
Existe uma triagem. Dupla, aliás. Primeiro, você tem que se cadastrar. Depois, comentários que fujam das regras essenciais da civilidade não são publicados. Param, antes, nas mãos dos editores que fazem a moderação.
Quase sempre o resultado é muito bom. Permite a você ter uma idéia do que se pensa, para usar a expressão feliz de FHC, “a voz rouca das ruas”. Fora, é claro, o mérito de permitir às pessoas que se manifestem.
Selecionei três depoimentos a respeito da morte de bin Laden na chamada “Operação Gerônimo”, nome dado em homenagem a um líder índio americano. São de procedência variada. Um vem do Paquistão, outro dos Estados Unidos e o terceiro da França. Dão, juntos, uma idéia razoável do que o mundo pensa do assunto, fora das pataquadas patrióticas e ultraconservadoras que transformam infantilmente o episódio no triunfo do bem sobre o mal.
Asif, de Lahore, Paquistão, escreveu: “Eu acho que tudo isso é apenas mais uma das táticas dos Estados Unidos de mostrar, como num filme barato de Hollywood com efeitos especiai, como os americanos são ” invencíveis”. Osama vai ser um herói e um mártir para todos aqueles entre nós, muçulmanos, bem como os não-muçulmanos, que não gostam da maneira arrogante e egoísta com que os americanos comandam o mundo inteiro. “
M Nicholas, da Califórnia, EUA, escreveu: “Estou horrorizado com a celebração interminável do meu país pela morte de um homem. É com o coração pesado que eu assisto à cobertura da imprensa sobre festas e encontros comemorando a morte de Bin Laden. Eu não acredito que seja a representação verdadeira de como o americano médio se sente; alívio, sim, mas também um sentimento de ‘vamos em frente?’”
Robert H da Pays, de La Loire, França, escreveu: “Sejamos honestos com nós mesmos e admitamos que este foi um ato de execução sumária sem julgamento que é um pouco fora do curso normal da justiça. Pessoalmente, não sou fã ou admirador de Bin Laden, mas eu tinha a impressão de que, como sociedade, nós tínhamos passado da época medieval em que um chefe de Estado dava ordens diretas para matar alguém.”