O vice-presidente Hamilton Mourão escreveu sobre a ameaça de caos e condenou o excesso de críticas ao governo, juntando uma coisa à outra, em artigo publicado na quinta-feira no Estadão.
Mourão escreveu, sem deixar nada muito claro, que o estrago institucional chega às raias da insensatez e está levando o país ao caos. Estrago institucional? Onde? Provocado por quem?
Bolsonaro, que sempre ameaça com o risco de caos, se a economia não for retomada com a liberação geral, na mesma quinta-feira disse, em videoconferência com empresários, que enfrentar os governadores que se opõem a ele é como participar de uma guerra.
Depois, Augusto Aras, o procurador-geral, falou em instabilidade pública, se divulgarem todo o vídeo com as conversas da reunião ministerial do dia 22. Instabilidade pública?
Há uma preparação para o pior, e o que pode acontecer de pior é o caos. Bolsonaro falou na mesma videoconferência em clima de ameaça de desobediência civil.
O general Augusto Heleno já acusou jornalistas de incentivarem o caos. Paulo Guedes disse que, sem retomada da economia, haverá caos social. É um jogral repetitivo e medíocre.
Vi ontem trechos das entrevistas de Paulo Guedes, Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos no balanço dos 500 dias de governo. É impossível ver mais do que trechos.
Não interessa se discordamos do que eles pensam e fazem. A primeira conclusão é a de que os três, que estão na ponta, são fracos como expressão de autoridade, como figuras públicas.
Diziam que Nelson Teich não passava confiança. Teich parecia tentar falar para as pessoas. Guedes e os três generais falam para Bolsonaro.
Ramos, ministro da Secretaria de Governo, general da ativa, chegou a comparar números de mortes por coronavírus com os de infartos, acidentes de trânsito, câncer e até Doença de Chagas.
Tudo para dizer que, nesse confronto, morrem poucos de Codiv-19. Morreram até ontem, em dois meses, 14.817 pessoas.
Se fossem 14.817 soldados mortos em 60 dias de uma guerra de homens sem comando, o general diria o mesmo?
O caos é a incapacidade do governo não só de governar, mas de se comunicar. O outro general que estava na mesa, Braga Netto, da Casa Civil, tentou fazer uma comparação precária de número de mortos no Brasil com os de mortos da Europa.
Pediu os números a um assessor e pensou: vou usar minha lógica militar para arrasar. Não arrasam, não convencem. Porque são fracos.
O governo de Bolsonaro é de medianos, e mesmo entre os militares há um claro rebaixamento da capacidade de reflexão, de transmitir informações e de ação.
A ameaça de caos chega a ser um cenário idealizado. Caos, saques de supermercados, como prevê Bolsonaro, instabilidade política e endurecimento do governo.
O caos social imaginado seria apenas uma forma de substituir o caos do poder institucionalizado em meio a uma pandemia. Eles são os promotores do caos.
A população não quer entrar nessa provocação. O bolsonarismo já é o caos. O povo quer sobreviver à pandemia e ter acesso à ajuda de emergência paga com o dinheiro dele.
O brasileiro não quer saber do caos que os generais imaginam para que se fortaleçam. O povo quer comida, mesmo que sem diversão e arte.