O chá de boldo contra coronavírus e a nova safra de fake news no WhatsApp. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 18 de maio de 2020 às 8:30
PUBLICADO NO FACEBOOK DO AUTOR
POR LUIS FELIPE MIGUEL
Eu quase não participo de grupos de zap, mas ainda assim recebo minha cota de absurdos.
Esses dias chegou o vídeo de uma fulana que, em resumo, dizia mais ou menos o seguinte:
Minha amiga me mandou ontem um áudio contando que ela e o marido pegaram coronavírus. Foram para o hospital e não receberam atendimento. Voltaram para casa e pediram uma inspiração a Deus, que respondeu que deviam tomar chá de boldo. Tomaram e depois de três horas estavam curados. Quando minha prima me ligou, na semana passada, desesperada porque toda a família estava contaminada, lembrei disso e contei a ela. Agora estão todos curados também.
A conversa é longa, o que torna menos evidente a incoerência: como ela retransmitiu na semana passada a informação que só teria recebido ontem?
Era um vídeo, mas basicamente só tinha áudio. A imagem era estática, uma foto de folhas de boldo. A voz era segura, educada; podia ser uma locutora profissional de rádio.
O interessante era o começo da conversa: a história seria contada para mostrar como é importante prestar atenção no que se recebe pelo zap. Por que passar essa lição, assim, de um jeito tão explícito? Será que estão percebendo uma recepção menor às merdas que eles mandam? Ou essa conclusão é otimista demais?
Interessante também a reação imediata de outro integrante da lista de zap, furibundo com o envio de mentiras. Explicou que não tem nenhum cabimento o milagre do chá de boldo e depois escreveu algo assim: não se deve misturar o nome de Deus com falsas curas, porque isso diminui a fé das pessoas.
Será que essa é mesmo uma preocupação autêntica? Ou é uma estratégia para sensibilizar os fundamínions contra as fake news?