Publicado originalmente no blog do autor
As denúncias de Paulo Marinho abalam Bolsonaro porque mexem com os segredos e as confidências da família. Mas o que Marinho tem a dizer (e terá como provar?) é que Flavio Bolsonaro temia o cerco que se fechava em torno dele e de Fabrício Queiroz.
Marinho sabia também como era a fábrica de fake news (a casa dele era uma usina). Talvez saiba alguma coisa dos rolos com dinheiro de campanha e pode ter informações vagas sobre a parceria mafiosa do entorno dos Bolsonaros. Mas não parece ser o cara que pode empurrar a família para o penhasco.
Dois caras poderiam dizer o que sabem, provar o que dizem e encaminhar o fim de Bolsonaro. Um está morto, é o miliciano Adriano da Nóbrega, executado na Bahia.
Foi parceiro de pilantragens da família e homem de confiança, até perder a proteção e deixar de ser confiável porque era procurado. Morreu como um cão abandonado.
O outro, que ainda está bem vivo, é o próprio Queiroz. Este seria o grande delator. Queiroz tem as notas, os recibos, os depósitos, tem todos os documentos do esquema das rachadinhas.
Deve ter grampos de conversas, porque Sergio Moro não pode ser o único sujeito que sabe grampear no Brasil.
Queiroz era tesoureiro. Pode saber sobre a lavagem de dinheiro da família, que levou o pai e os três filhos a juntarem um patrimônio em imóveis de mais de R$ 15 milhões. Isso só no Rio, em salas, casas e apartamentos.
Marinho diz que suas contas bancárias estão sofrendo devassa do Banco Central. As contas de Queiroz já foram devassadas pelo Coaf e não aconteceu nada.
Não há outro foragido mais tranquilo no mundo hoje do que Queiroz. Podem dizer que, do ponto de vista formal, Queiroz não é um foragido.
E não é mesmo. Sabe-se tudo do que ele fez, que era o chefe da quadrilha dos Bolsonaro, mas Queiroz nunca depôs ao Ministério Público do Rio.
Nunca foi localizado, porque nunca foi procurado. Queiroz é o único foragido que não precisa fugir, porque MP e Justiça não querem procurá-lo. É uma estratégia? Se for, sempre é a favor da direita.
Se estivesse sob pressão, Queiroz teria de dizer o que sabe. Não é possível que não aconteça com ele o que aconteceu até aqui com todos os ex-aliados de copa e cozinha dos Bolsonaros que viraram inimigos da família.
Todos os ressentidos não ganharam o que Bolsonaro lhes prometeu. E o que prometia? Dinheiro de sobra de campanha? Partilha de alguma coisa? Cargos?
O que Paulo Marinho não recebeu dos Bolsonaros para atacar com tanta força? No que a família falhou com o empresário?
Queiroz ainda deve estar ganhando o que pede, mas precisa virar desafeto feroz da família. Sabe tudo e ainda está vivo. Adriano da Nóbrega também sabia, mas agora não sabe mais nada.
Gustavo Bebianno também deixou de saber. E Paulo Marinho anda com proteção policial, por temer que esteja na fila dos que podem, por qualquer motivo, deixar de saber o que sabem dos Bolsonaros.
Uma coisa é certa. Os Bolsonaros não são bons de segurar cúmplices por muito tempo, ou por incompetência ou porque querem tudo para eles.
Manter Queiroz quieto deve custar muito caro. Adriano da Nóbrega e Bebianno não custam mais nada.