Publicado originalmente no blog do autor
Por Moisés Mendes
Resume-se numa frase a situação de Bolsonaro hoje: assim como está não pode ficar. Por isso ele disse hoje que chega. Mas o que pode resultar das suas falas para que o cenário e os humores sejam outros? Ele não sabe nada de nada. Nada.
Bolsonaro só sabe que não quer que fique como está, acossado pelo cerco do Judiciário, e tenta se livrar do sufoco com o último recurso de que dispõe. O blefe é a sua última arma.
Bolsonaro blefa até como chefe supremo das Forças Armadas (disse na reunião do dia 22 e repetiu hoje no cercado do Alvorada). Mas ele não sabe com quem poderá contar na hora da verdade.
Blefa como líder popular. Mas Bolsonaro não é líder popular, com apoio precário de apenas 30% da população. Blefa como chefe de uma Polícia Federal que ele acha capaz de afrontar as ordens do Judiciário.
Bolsonaro não sabe se pode contar com os militares, sabe que não tem lastro confiável no Congresso e se sente depreciado por não ter apoio explícito dos empresários.
Tem os generais, que não vão abandoná-lo agora, mas poderão deixá-lo mais adiante.
Quando Bolsonaro grita que ‘chega’ e o filho Eduardo avisa que pode haver ‘ruptura’, não surge mais ninguém de peso que repita o que eles dizem. Todos os generais têm dito que não querem saber de golpe.
Mourão chegou a desmoralizar o filho do sujeito, ao dizer que alguém que não foi soldado do Exército não pode falar em intervenção militar. “Me poupem”, disse Mourão ao ser indagado sobre a possibilidade de intervenção militar sob a liderança do fritador de hambúrguer.
Os militares olham para Bolsonaro, para os filhos dele, para Weintraub, Araujo, Damares e até para Paulo Guedes e sabem que estão numa fria. Que entraram com facilidade, mas somente sairão com muita dificuldade.
Bolsonaro deu emprego aos militares, mais do que poder, para que sirvam de sua base de segurança. Depreciou as atribuições das Forças Armadas ao chamar oficiais para o governo como muro de proteção.
A jornalista Helena Chagas escreveu que a grande dúvida é essa: que golpe seria o aplicado por Bolsonaro? O que ele poderia fazer para configurar um golpe clássico, com intervenção direta no Congresso e talvez no Judiciário?
Bolsonaro poderia decretar censura geral à imprensa, mas conseguiria censurar a produção de conteúdo da internet? Não há como aplicar golpe algum, nem golpe híbrido, ou talvez exista a chance de um impasse, que ele imagina que poderia favorecê-lo. Mas como?
Amanhã, Bolsonaro irá gritar de novo: chega. O filho irá anunciar: vem aí a ruptura. E os generais dirão que não é nada disso.
O blefe sustentou Bolsonaro no Congresso por 27 anos. No governo, é uma tática que pode funcionar por algum tempo. Bolsonaro sabe que, num governo marcado por traições em pouco mais de ano de existência, se houver um golpe, ele será o primeiro golpeado.
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A CURA
O humor de Gibran Gomes.
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