O ex-policial militar e deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) contrata, como secretária parlamentar em seu gabinete em Brasília, desde fevereiro de 2019, a estudante de jornalismo do Instituto Mackenzie e missionária da Igreja Presbiteriana do Brasil (sede Cidade Adhemar-SP) Fernanda Braulio Muniz Varela, de 21 anos, que mora, estuda e missiona em São Paulo.
Desde que foi contratada pelo deputado – que é um dos maiores defensores do governo Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara dos Deputados – ela estagia na própria faculdade em que estuda e realiza uma série de trabalhos e viagens missionárias pelo Brasil e em países africanos.
Ativa nas redes sociais e nos canais de comunicação de sua igreja, a estudante mantém seus amigos e irmãos de fé informados sobre todas as atividades que desenvolve em sua vida acadêmica, profissional e missionária.
Desde que foi empossada como secretária parlamentar do Coronel Tadeu, no entanto, jamais publicou uma linha sequer sobre as atividades que supostamente deveria desenvolver para fazer jus aos recursos públicos que recebe pelo cargo que ocupa, cujo salário mensal é de R$ 3.148,17, como se pode ver abaixo.
Para exercer a função pela qual é remunerada, a estudante de jornalismo deveria estar morando em Brasília, uma vez que faz parte da descrição de seu cargo o exercício da atividade no próprio gabinete do deputado Coronel Tadeu, como pode se ver no anúncio de sua nomeação, publicado no Diário Oficial da União em fevereiro de 2019.
O DCM enviou à secretária parlamentar as seguintes perguntas acerca do assunto desta reportagem:
– A senhora mora, estuda e desenvolve atividades religiosas em São Paulo enquanto é contratada, desde fevereiro de 2019, para exercer cargo comissionado em um gabinete parlamentar em Brasília. Como isso é possível?
– Quais são, quando são desenvolvidas e em qual local as atividades que a senhora desenvolve como secretária parlamentar do deputado federal Coronel Tadeu?
– Desde que foi contratada como secretária parlamentar, a senhora já foi duas vezes à Africa e esteve presente em, pelo menos, oito eventos missionários da Igreja Presbiteriana do Brasil. Como foi possível conciliar essas atividades?
Até a publicação desta reportagem, Fernanda Varela (como é conhecida em sua igreja e se apresenta em suas redes) não havia respondido às perguntas enviadas.
Estudando e pregando a Palavra em SP; recebendo por cargo em Brasília
No dia 10 de março deste ano – uma terça-feira – a secretária parlamentar Fernanda Varela foi aos estúdios da Rádio Igreja Presbiteriana, em São Paulo, falar sobre as atividades que desenvolve.
Sem nunca citar o cargo que ocupa em Brasília, a jovem missionária participou do programa “Missão Mundo”, e contou aos ouvintes que está cursando o último ano da faculdade de jornalismo em São Paulo, e explicou como faz para conciliar seus estudos com o trabalho missionário na igreja, que a levou a duas viagens a países africanos nos últimos 12 meses. Como se pode ver e ouvir abaixo, Fernanda Varela dedica sua vida à igreja e à vida acadêmica, sem qualquer referência a atividades parlamentares.
Já no dia 2 de março deste ano, uma segunda-feira, Fernanda Varela estava em Itapeva, município paulista a 200 km de São Paulo, mais uma vez participando de eventos religiosos.
De fato, como a secretária parlamentar mostra em suas redes, não pode haver dúvida de sua dedicação à pregação da Palavra. Tudo que se vê em suas redes sociais são provas do trabalho contínuo que desenvolve junto com a Igreja Presbiteriana do Brasil em São Paulo e na África.
O DCM procurou também o deputado Coronel Tadeu para que pudesse explicar os fatos envolvendo a contratação de sua secretária parlamentar. Foram enviadas as seguintes perguntas:
– Quais funções desenvolve em seu gabinete a secretária parlamentar Fernanda Braulio Muniz Varela?
– Como ela pode trabalhar em seu gabinete em Brasília ao mesmo tempo em que mora e estuda em São Paulo?
– Quantas vezes a secretária parlamentar Fernanda Varela esteve em seu gabinete desde que foi contratada? Em quais datas?
Até a publicação desta reportagem, o deputado ainda não havia respondido às perguntas.