A já famosa grampolândia da Lava-Jato levanta várias questões sobre os desmandos da turma de Deltan Dallagnol. Uma delas é uma pergunta a ser respondida logo: Sergio Moro, que chegava a orientar as ações do Ministério Público como se fosse chefe do grupo, sabia que os procuradores grampeavam todos os que conversavam com eles?
Uma outra pergunta é sobre o paradeiro de dois aparelhos usados no sistema Guardião, que capta e arquiva conversas por telefone. Dois dos três equipamentos teriam sumido de Curitiba, o que pode caracterizar tentativa de ocultação antecipada de provas.
Mas há uma outra dúvida decisiva a ser levantada, a partir da constatação de que os procuradores agiam sem controles: eles teriam mesmo grampeado apenas quem conversava com a força-tarefa da Lava-Jato e quem era investigado?
Em 2005, fiz a primeira reportagem publicada em Zero Hora sobre o funcionamento do sistema Guardião da Secretaria de Segurança do Rio Grande do Sul.
O equipamento era a novidade na investigação criminal. A reportagem foi autorizada pelo governo e teve fonte identificada, o coordenador do sistema na época, major Humberto de Sá Garay.
Não vi, não ouvi e não divulguei nada que não devesse ou pudesse trazer prejuízos ao funcionamento legal do Guardião, que deve ser acionado apenas com ordem da Justiça.
Me lembro da diferença entre grampo de aparelho fixo e de celular (o Guardião gaúcho grampeava celulares). E aí surge a dúvida: Curitiba grampeava telefones celulares sem qualquer controle?
Se grampeava, é possível que o dano seja maior do que o divulgado até agora. É provável que os grampos não envolvam apenas os envolvidos nas investigações, mas quem conversava com eles e, o que é pior, quem estivesse por perto, sem nenhuma relação com os grampeados.
O grampo que pegou Rodrigo Maia, por exemplo, pode ter flagrado conversas da área em que ele estava, ou seja, de todo o entorno do Congresso.
A reportagem que fiz sobre o Guardião enfatizava um detalhe: todas os registros de conversas captadas ao acaso, sem relação com a investigação, deveriam ser destruídos sob supervisão da Justiça.
A república de Curitiba fazia isso? Eles podem saber hoje da vida de todo mundo, e não só de políticos. Localizar alguém, ouvir suas conversas e grampear é espionar.
Os homens de Dallagnol agiam como espiões clandestinos, pelas denúncias existentes até agora.
Quem, além de advogados, empreiteiros e políticos, foram as vítimas do esquema? É preciso achar os equipamentos sumidos ou suas gravações, ou tentar o que a Lava-Jato consagrou como prática de investigação: é preciso achar delatores.