O print acima é da tela de um celular que retrata a conversa com uma faxineira e viralizou depois que foi publicado na página “Quebrando Tabu”, no Facebook.
A patroa, que se chama Daniela, tem dinheiro pagar a diária de faxineira, mas, pelo jeito, os pais desperdiçaram o deles pagando pela sua edução. Ela não sabe o português básico. Segue a escrita original:
“Oi lu deixa eu te falar da proxima vez que vc vim aqi em caza,or favornão uzar mas o meu banheiro e traga por favor un lanche que nao estrague pra nao usar a geladeira aqi de casa, suas coisas, é suas coisas as nossas é as nossas”.
Ela fez essas colocações grosseiras e, depois, a elogiou:
“Gostei muito da sua faxina, quero te chamar mais veses mas se puder cumprir com essas regras, agradesso, pois como eu te disse nao gosto de fazer comida para empregados, qual o dia da semana vc tem disponivel”.
Não há informação sobre a resposta da Lu. No mundo ideal, ela teria mandado a patroa catar coquinho, mas, no mundo das coisas práticas, muitas brasileiras como ela precisam desse dinheiro — aliás, não sobrevivem sem ele, o equivalente numa cidade como São Paulo a R$ 150,00.
Depois que Lu decidiu dar publicidade à conversa, outras faxineiras se encorajaram e contaram histórias que revelam a miséria humana de pessoas como a tal Daniela.
“Uma vez fiz uma faxina na Vila Madalena… A cliente perguntou se eu gostaria de almoçar, e eu aceitei. No fim do dia, ela transferiu o pagamento para a minha conta e descontou 20 reais, avisando ser referente à comida que eu gastei. Pra esse povo, a gente é o quê?”, disse uma mulher.
A filha de uma faxineira contou o que viu a mãe viver.
“Eu já presenciei na minha vida tanto absurdo como esse que minha mãezinha passou trabalhando nas casas dos outros que pra mim é o serviço mais infeliz que existe vc limpa vaso lava a sujeira dos outros é tratada pior dq os cachorros da casa , é melhor catar latinhas vender bombom balas no sinal qualquer outra coisa dq isso muito triste e ñ se iludam que tem algumas que são boazinhas ñ são quando some qualquer merda a primeira suspeita cai p cima da pobre da empregada”, afirmou.
O comportamento das patroas em relação a essa força de trabalho é o que explica, em grande parte, o ódio da classe média a um projeto político de inclusão social que foi interrompido com o golpe que derrubou Dilma Rousseff, em 2016.
A patroa começou a ver que, com um pouco de oportunidade, os pobres vistos como limpadores de privadas começaram a despontar.
O filme “Que horas ela volta”,de Anna Muylaert, retrata bem essa ascensão, na personagem Jéssica, que passa no vestibular difícil enquanto o filho da patroa fracassa.
A patroa é ligeiramente progressista, assim como o marido, mas não conseguem — ela mais do que ele — vencer o preconceito que está arraigado na nossa cultura, que Jessé Souza apontou, corretamente, como um traço da nossa herança escravocrata.
Muitas patroas continuarão se comportando assim, mas, como mostrou o filme de Anna Muylaert, as mães das Jéssicas já não silenciam mais.
Essa conversa de Daniela, exposta por Lu, é a prova de que o golpe contra Dilma não será capaz de segurar por muito tempo a ascensão das mulheres que fazem todo o serviço de casa e querem ser tratadas como merecem: com respeito e decência.
Que tipo de gente pessoas como Daniela pensam que elas são?