De Paris
Quando você pega um táxi ao chegar a Paris faz força para não fechar os olhos para não perder nada da beleza secular, assombrosa, quase chocante e humilhante para quem é de uma cidade como São Paulo.
Penso nisso ao subir a Champs Elysées num táxi guiado por um jovem e sorridente descendente de africanos da Etiópia.
É bom estar vivo para poder admirar, de baixo para cima, o Arco do Triunfo.
Por razões óbvias, me vem à cabeça a música “Perfect Day”, de Lou Reed. É uma música triste como poucas, mas paradoxalmente me traz alegria. Está associada a um período em que eu começava a deixar para trás a dor do divórcio.
Um dia perfeito é simples de viver na Champs Elysées.
Acabo de viver um.
Vou dar o roteiro. Primeiro, apenas andar, andar e andar. Mas com concentração, sem esquecer que você está onde está. Pensar nos problemas do escritório ou nas contas a pagar quando você está na CE é um pecado.
Depois, um club sandwich no Deauville e uma Coca grande com gelo e limão, numa mesa voltada para a rua. O preço da Coca é um absurdo, 11 euros, mas poucas vezes você vai ter a chance de torrar dinheiro de uma forma tão gostosa.
Depois, filosofar num banco ali na CE. Em Paris, aja como os parisienses. Filosofe. Pense em você, respire fundo, medite. Feche os olhos por alguns instantes para absorver melhor os sons da rua. A sessão filosófica pode terminar com uma sesta. Você estará agiando como uma francês.
Depois, ver os livros, os cds e os dvds da Virgin. Em seguida, andar mais um pouco e tentar entender por que as mulheres ficam tão alucinadas pela Séphora.
Depois, um pouco para cima da Séphora, ver uma sessão de dança de rua. Já pe uma tradição. São pequenos grupos de garotos que sabem se mexer bem. Cada sessão tem uns dez minutos. O som é bom, e chapéus são espalhados para que a platéia dê sua contribuição. Não seja avarento como o grande personagem de Moliére. Cate dois euros em moedas e deposite num dos chapéus. Guarde pelo menos um euro para dar àquela senhora sentada na rua, mendigando. Poucas atrizes fazem cara de coitada como ela.
Depois, uma pizza na Pino. É uma das melhores pizzarias do mundo. Comi uma pizza do chef hoje. Mussarela, pedaços de linguiça e um ovo. A Pino tem o ar festivo, barulhento das pizzarias de Roma.
Depois, andar mais um pouco. Concentrado. Você não está em qualquer lugar. Você está na avenida provavelmente mais bonita do mundo.
Faça como Epicuro e valorize a sua saúde. Você está respirando com vigor, e pode andar uma, duas horas sem fraquejar. Nada dói.
E ademais você tem olhos capazes de assimilar tanta beleza.
Pronto.
Tome um sorvete de chocolate belga na Hagen Daas e você pode voltar para seu hotel.
Viveu um dia perfeito. Pode agora entrar com convicção no coro da grande música de Lou Reed.
Voilá.