Publicado originalmente no Monitor Mercantil
Os laboratórios Pfizer/Biontech venderam aos Estados Unidos cada dose da vacina que estão desenvolvendo contra a Covid-19 por US$ 19,50. Foram 100 milhões de doses pelo total de US$ 1,950 bilhão. Se o Brasil conseguisse o mesmo preço, gastaria, para vacinar 80% da população, pouco mais de R$ 16 bilhões, sem levar em consideração o custo de distribuição em todo território nacional e da aplicação.
Mas dificilmente o Brasil conseguiria o mesmo valor pago pelo Governo Trump. Por ser uma compra feita antes mesmo que a vacina tenha passado por toda a bateria de testes, o preço pago pelos norte-americanos deve embutir um bom desconto. A Pfizer já anunciou que não venderá a possível vacina a preço de custo, devendo avaliar os valores de acordo com a situação da saúde mundial.
Merck Sharp & Dohme (MSD) e Moderna também avisaram que vão comercializar o produto com lucro, mesmo tendo recebido centenas de milhões de dólares em financiamento público. As decisões, de ética duvidosa em um momento em que o mundo está semiparalisado, garantirá bom lucro aos acionistas dos laboratórios.
Uma comparação pode ser feita com o AstraZeneca, que desenvolve com a Universidade de Oxford uma das vacinas em estágio mais adiantado. O laboratório – que garantiu que, inicialmente, venderá a preço de custo – assinou contrato de US$ 1,2 bilhão com agência Barda, dos EUA, para fornecer 300 milhões de doses.
Este valor representa um custo de US$ 4 por dose. Se o produto da Pfizer/Biontech tivesse custo semelhante, a venda por US$ 19,50 representaria um lucro de US$ 15,50 por dose, ou quase 300%. No lote já vendido aos Estados Unidos, representaria um ganho de US$ 1,550 bilhão. Como os EUA têm opção de comprar mais 500 milhões de doses, o lucro – só com a terra de Trump – iria a US$ 8,7 bilhões.
Assim como a AstraZeneca, a Johnson & Johnson afirmou que planeja vender a preço de custo enquanto permanecer a pandemia.