Publicado na Rede Brasil Atual
Professores e trabalhadores em educação de São Paulo se reuniram na manhã desta quarta-feira (29) em frente ao Estádio do Morumbi, na zona sul da capital paulista, com a intenção de realizar uma carreata (#carreataemdefesadavida) até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, a poucos quilômetros dali. Entretanto, a expectativa foi frustrada pela Polícia Militar, que montou dois bloqueios em vias próximas para impedir a carreata.
O ato foi planejado em protesto pela volta às aulas em 8 de setembro, como quer o governador João Doria (PSDB). Mesmo com a presença da deputada estadual Maria Izabel de Azevedo Noronha (a Bebel, presidenta da Apeoesp, o sindicato dos professores da rede pública), soldados armados agiram com truculência contra os participantes.
Os bloqueios do Batalhão de Ações Especiais (Baep) permaneceram nos locais até por volta das 14h, o que impediu os manifestantes de se deslocar. “Truculência e autoritarismo! Assim fomos tratados hoje pela tropa de choque de Doria em nosso protesto – pacífico – contra a volta às aulas precoce”, protestou Bebel.
O presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, também esteve no local. Em entrevista para o portal de imprensa da central, ele afirmou que a carreata era uma manifestação legítima contra o retorno presencial das aulas neste momento em que os casos da covid-19 seguem em alta. “Uma luta que não é só dos professores, mas de toda sociedade. Pois a volta às aulas sem segurança sanitária, além de aumentar a possibilidade de contágio, coloca em risco não só a categoria, mas alunos, pais, funcionários e suas famílias”, acrescentou o dirigente.
Doria modificou as regras do seu próprio comitê de combate ao coronavírus para forçar o retorno às atividades escolares em 8 de setembro. Pela planejado no chamado Plano São Paulo, o retorno à aulas possivelmente só se daria no final de setembro ou início de outubro. Os professores e a comunidade científica classificam a intenção como muito precoce e alertam que pode provocar milhares de casos e mortes pela covid-19.
Diferença de postura
A PM mostra, mais uma vez, que não existe igualdade no tratamento de protestos populares. No dia 18 de abril, por exemplo, uma carreata de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro bloqueou vias nos entornos de hospitais da capital. Ironicamente, na ocasião, uma das exigências dos manifestantes era o impeachment do governador Doria, por ele ter decretado medidas leves de isolamento social.
No início da quarentena, o governador chegou a adotar um discurso moderado em relação ao vírus. Reafirmou diversas vezes “ouvir a ciência”. A postura de Doria foi alterada pela pressão dos agentes econômicos e de negacionistas.