Publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual (RBA)
Desprezar as medidas sanitárias de prevenção ao contágio pelo novo coronavírus, deixar de investir adequadamente na infraestrutura hospitalar e em medidas socioeconômicas para permitir o isolamento social em plena curva de contágio ascendente, em detrimento da economia, não tem como funcionar. Essa estratégia, adotada pelo governo Bolsonaro e seguida por muitos governadores e prefeitos, foi condenada pela Organização Pan-Americana de Saúde e pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Em informe conjunto divulgado nesta quinta-feira (30), os órgãos das Nações Unidas (ONU) alertam que a recuperação da economia depende do controle da doença. “Não há abertura econômica possível sem que a curva de contágio tenha sido controlada e não há reativação (econômica) possível sem um plano claro para evitar o recrudescimento do contágio.”
Segundo o documento, medidas de saúde destinadas a controlar a pandemia, incluindo quarentena e distanciamento social, devem ser implementadas em conjunto com medidas sociais e econômicas destinadas a mitigar os efeitos da crise, uma vez que estas facilitam o cumprimento das medidas de saúde.
Desenvolvimento
“Reconstruir melhor (a economia) implica em promover o desenvolvimento sustentável centrado na inclusão e igualdade, promovendo a transformação produtiva e criando um estado de bem-estar”, destaca trecho do comunicado.
“O avanço da igualdade é fundamental para o controle efetivo da pandemia e para uma recuperação econômica sustentável na América Latina e no Caribe. Devemos responder à emergência e implementar uma estratégia para superar as fraquezas estruturais das economias e sociedades. Por esse motivo, mudar a estratégia de desenvolvimento é essencial na região”, afirmou a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena.
O relatório mostra que alguns países levaram a região a se tornar o epicentro atual da pandemia, superando as estatísticas de casos globais. Em 29 de julho, registrava,-se mais de 4,5 milhões de casos de covid-19 e quase 190 mil mortes na América Latina e no Caribe. “Um número grande de países está longe de alcançar um achatamento significativo e sustentado da curva de contágio. A pandemia desencadeou uma crise econômica e social sem precedentes e, se medidas urgentes não forem tomadas, poderá se transformar em uma crise alimentar e humanitária”, destaca outro trecho do informe.
Recessão
Segundo projeções da Cepal, a pandemia causou a recessão mais abrupta da história, o que implicará em queda de 9,1% da economia regional em 2020. Além de aumento do desemprego e da taxa de pobreza, para atingir cerca de 37% da população, e um crescimento da desigualdade.
Ao mesmo tempo, os sistemas de saúde dos países da região, que já estavam subfinanciados e fragmentados antes da chegada da covid-19, não conseguem dar a devida resposta à pandemia. Os gastos públicos em saúde representam em média apenas 3,7% do PIB, pouco mais da metade dos 6% recomendados pela Opas.
Um terço da população ainda enfrenta algum tipo de barreira para acessar os serviços de saúde de que precisam. “Os altos graus de desigualdade acompanhados de altos níveis de pobreza, informalidade, falta de proteção social e o acesso limitado à saúde explicam os altos custos sociais que a pandemia está tendo na América Latina e Caribe.