Duas perdas para o jornalismo de combate nesses tempos em que as trincheiras de esquerda são desafiadas a sobreviver em ambientes infectados pelas fake news, pelo ódio e pelas difamações da extrema direita.
Ontem, o jornalista Fernando Morais anunciou o encerramento do seu blog Nocaute, mantido desde outubro de 2016. E hoje ficamos sabendo do fim do Conversa Afiada:
Morais escreveu:
“O dinheiro era pouco e se acabou. Conseguimos sobreviver mais de três anos, sempre com a corda no pescoço. Temos repetido aqui o bordão de que tempos perigosos exigem jornalismo corajoso. Mas fazer jornalismo e corajoso e independente tem um custo”.
Hoje, a equipe do Conversa Afiada anunciou o fim do blog criado por Paulo Henrique Amorim em 2003. O texto que informa sobre a extinção da página admite que, sem o jornalista, o time se fragilizou.
“Em 2019, com a morte de Paulo Henrique Amorim, esta equipe não se permitiu abaixar as bandeiras e abdicar de seu dever perante a democracia. Continuou a defender, dia após dia, os princípios que nortearam o Conversa Afiada desde a sua criação. Os últimos meses, entretanto, foram um desafio duplamente extenuante: além das dificuldades inerentes à luta pela construção de uma imprensa independente e progressista, a equipe teve de lidar 24 horas por dia, 7 dias por semana com o peso de uma ausência irreparável – porque, afinal de contas, há sim pessoas insubstituíveis”.
Desaparecem os espaços virtuais criados por dois dos maiores jornalistas brasileiros.
É do jogo e mais ainda em uma guerra. Parte do jornalismo com perfil assumidamente militante está sendo derrotada pela incapacidade de sobreviver apenas com as contribuições dos leitores e os anúncios que pagam migalhas.
O mundo virtual ainda é Marte para o jornalismo de pequenos times, muitas vezes apegado às referências românticas das redações analógicas.
Conversa Afiada e Nocaute duraram o tempo que foi possível, como os nanicos da época da ditadura (alguns duravam apenas alguns meses). Mas os sobreviventes vão em frente, alguns mais fortes do que antes do golpe de 2016.
Eu sobrevivo com essa turma, mantendo este blog e escrevendo para os jornais Extra Classe, Brasil 247 e DCM. Enquanto houver um leitor, um só, haverá quem escreva pra ele.