A descoberta dos cheques da mesadinha de Fabrício Queiroz para Michelle Bolsonaro tem o poder de indignar ainda mais os já indignados. E só. Não muda nada em relação aos que não querem desconforto algum com notícias ruins.
A base de sustentação de Bolsonaro não se constrange e não se incomoda com nada. Nem com rachadinha, com fake news, com blefe de golpe, com pandemia e tampouco com a destruição da Amazônia e a matança de índios.
E como tal descoberta não provoca nenhum outro abalo, nem no campo legal, em relação a Bolsonaro, tudo fica como está.
A única novidade dessa revelação, com provas, é que a mulher de Bolsonaro recebeu R$ 76 mil de Queiroz. É uma notícia. Se fossem R$ 2 milhões, não mudaria nada.
Reafirma-se com a noticia que Bolsonaro mentiu sobre o empréstimo a Queiroz, como todo mundo já sabia que havia mentido. Mas tudo fica na mesma.
Vão tentar fazer agora uma CPI do mensalinho da Michelle. Já existe a CPI das fake news. Teremos daqui a pouco a CPI dos arapongas perseguidores de antifascistas. Não esperem nada.
Há consolos, com a nova denúncia dos cheques para Michelle, e um deles é esse: o Ministério Público do Rio não foi tomado pelos Bolsonaros. E a imprensa continua trabalhando. E parte do Judiciário resiste como pode.
Mas Bolsonaro continua como sempre esteve, com o apoio de pelo menos um terço da população, ou mais. De cada 10 brasileiros, três são indiferentes aos rolos de Bolsonaro, dos filhos de Bolsonaro, da ex-mulher de Bolsonaro (que também mandava dinheiro para Michelle).
O Brasil optou pela assimilação da chinelagem institucionalizada. E o mensalinho é a expressão do mundo miúdo dos Bolsonaros. Sabemos que eles lavaram dinheiro e formaram um patrimônio imobiliário de quase R$ 20 milhões.
E que essa façanha empreendedora, comandada pelo filho senador, é a que menos aparece nas notícias policiais da família, porque não está na lavagem de dinheiro a marca do que a família é.
O que determina mesmo o que os Bolsonaros são é essa capacidade de ser raso e medíocre até mesmo como gangue.
Falta aos Bolsonaros não um glamour, o que seria improvável, mas alguma coisa que os colocasse ao lado da ‘normalidade’ de outros corruptos da política brasileira. Mas aí eles não seriam os Bolsonaros.
Os Bolsonaros são os parceiros de milicianos que deram certo, meio sem querer, como projeto de poder.
Se os Bolsonaros fossem personagens de uma série sobre gangues, ninguém levaria a história deles a sério. Mas eles mandam no Brasil.
Numa série, eles seriam encurralados e não chegariam à segunda temporada. No Brasil, na vida real, ninguém consegue pegá-los, nem o coronavírus.