Publicado originalmente no blog do autor
Por Alberto C. Almeida
A resposta é não. O aumento da popularidade de Bolsonaro fez com que muita gente passasse a afirmar que ele venceu a batalha da comunicação, que a narrativa vitoriosa sobre a pandemia e seus mortes é a dele. Esta afirmação tem um pressuposto: as pessoas são pólos passivos da comunicação, elas são ingênuas e manipuláveis e aquele que se comunicar melhor com elas irá lhes persuadir. Neste caso, Bolsonaro as persuadiu em avaliar melhor o seu governo e a oposição foi incapaz de fazer o oposto.
Melhor do que partir de pressupostos é avaliar as evidências empíricas que têm impacto na mudança de opinião. É comum que fatos políticos tenham impacto na opinião das pessoas, alguns exemplos são os grandes escândalos de corrupção como foi o caso do Mensalão no Governo Lula, várias modalidades de crise econômica como o aumento da inflação ou do desemprego que ocorreu no Governo Dilma, e também o racionamento de energia que aconteceu no Governo Fernando Henrique. A pandemia foi um fato político que teve sim impacto na avaliação de Bolsonaro, a recém publicada pesquisa do Datafolha revela que a avaliação de seu governo piorou muito dentre as pessoas com renda e escolaridade mais elevada.
A pandemia, contudo, tem diversas facetas. Se por um lado o descaso do presidente com a saúde da população escandalizou os mais escolarizados, por outro o auxílio emergencial agradou os mais pobres, a mesma pesquisa revela isso. Segundo Marcelo Neri, 80% dos que recebem o Bolsa-Família passaram a ganhar 1.200 reais por mês. Supondo-se que 13 milhões de famílias recebam o benefício, temos que 10,5 milhões saíram de uma renda média de 190 para 1.200, um salto financeiro sem precedentes na vida recente. Imaginando-se que haja quatro pessoas em cada família nuclear, além dos agregados que saberão desta melhoria de renda, tem-se que mais de 40 milhões de pessoas estão sendo beneficiadas por esse aumento de renda. Se isso fosse comunicação, então Bolsonaro teria vencido a batalha, mas não é.
O auxílio emergencial custa 50 bilhões por mês, o Bolsa-Família 30 bilhões por ano. O Brasil começou o ano, antes da pandemia, portanto, com uma previsão de déficit da ordem de 2% do PIB e agora estamos entre 10 e 12%. Dinheiro não nasce em árvore. A proposta orçamentária para 2021 precisa ser apresentada até dia 31 de agosto e aí está o nó político do Governo Bolsonaro. O Presidente está entusiasmado com o auxílio emergencial e sabe que ele ajudaria bastante a sua reeleição. Ocorre que o Brasil não tem espaço fiscal para manter o benefício até 2022, e talvez não tenha nem mesmo como aumentar o valor do Bolsa-Família.
Uma saída para o Governo Bolsonaro seria acabar como o Super Simples e as isenções tributárias do imposto de renda da pessoa física. Se isso fosse feito de uma só vez o governo teria em caixa 100 bilhões por ano. Porém, esqueça, não é viável politicamente. Não agora, talvez seja um dia, talvez. Qualquer tentativa de obter recursos para ou aumentar o Bolsa-Família ou manter alguma modalidade de auxílio emergencial em 2021 esbarra na política. Há resistências em todos os lugares e de todos os tipos. As isenções não serão mexidas e dificilmente uma nova contribuição será aprovada. Lembremos que os setores empresarias que apoiaram Bolsonaro rejeitam fortemente o aumento da carga tributária. Mesmo que isso fosse viável, um novo imposto seria direcionado para cobrir o rombo e não para uma nova despesa.
Bolsonaro não ganhou batalha de comunicação alguma. A melhoria de sua aprovação se deveu a um benefício concreto na vida das pessoas: um aumento de renda abrupto que resultou em melhoria do bem-estar das famílias mais pobres. Assim, quando a sua popularidade cair por conta do fim do auxílio emergencial ele não terá perdido a batalha da comunicação para a oposição, mas apenas terá sido vítima do fim de uma política pública insustentável na atual situação financeira do Brasil.