Publicado no Instituto Humanitas Unisinos
As pessoas com mais de 50 anos retêm alguns dos conhecimentos ou práticas dessa cultura, mas a diminuição é drástica entre aqueles que têm menos de 35 anos, de acordo com uma pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP).
A reportagem é de Abel Mestre, publicada por Le Monde, 15-08-2020. A tradução da versão italiana é de Moisés Sbardelotto.
Uma erosão, mas também uma persistência. Esse é o resultado ambivalente da investigação do IFOP para o jornal Le Monde sobre os franceses e a cultura cristã (majoritariamente católica na França).
Realizada com 1.009 pessoas com um questionário autoaplicável, de acordo com o método das cotas, essa pesquisa retoma as mesmas perguntas daquela realizada em 1988. Uma distância de 32 anos que permite medir até que ponto a cultura cristã mudou na população francesa.
“Vê-se que essa cultura se mantém, mas que, ao mesmo tempo, existem enormes lacunas, particularmente entre os jovens. Isso levanta o problema da transmissão, mesmo entre os praticantes”, observa Jérôme Fourquet, que dirige o departamento de opinião do IFOP.
Sobre vários assuntos – que parecem básicos – a proporção de pesquisados que não responderam, por exemplo, é impressionante.
Um dos pilares da cultura cristã continua sendo o conhecimento das orações mais importantes: 56% das pessoas interrogadas conhecem o Pai-Nosso, e 46%, a Ave-Maria. Há 32 anos, esses percentuais eram de 67% e 61%.
O conhecimento sobre as festas do Natal e da Páscoa permanece estável. Quanto à Assunção, os entrevistados sabem a data do dia 15 de agosto, mas muitos se esqueceram do significado dessa festa. O distanciamento é mais evidente no que diz respeito a Pentecostes: apenas 13% das pessoas interrogadas sabem dizer o seu significado. Pior: 62% dos católicos não se pronunciaram.
O sinal da regressão da cultura cristã também pode ser visto na posse de objetos. São muito menos os franceses que têm em sua casa um crucifixo ou um terço, uma estátua de Nossa Senhora ou um ramo de oliveira abençoado.
De acordo com Fourquet, essa é a prova de um refluxo geral, e isso também na intimidade e entre os praticantes. “A cultura cristã continua sendo uma ilha no arquipélago, mas está em declínio”, resume o autor de “L’Archipel français” (Seuil, 2019).
Esse estudo também mostra uma grande diferença entre aqueles que têm mais de 50 anos e os mais jovens. Para as pessoas mais velhas, os resultados são mais ou menos os mesmos de 1988. Em vez disso, os conhecimentos e a permanência da cultura cristã entre os jovens são cada vez menos significativos.
Por exemplo, 26% dos que têm menos de 35 anos sabem o significado da Ascensão, em comparação com 44% dos que têm mais de 50 anos. Entre os mais novos, 5% têm um missal, em comparação com os 30% mais velhos.
Essa perda de cultura e de memória pode ser explicada por uma conjunção de fenômenos que transformaram profundamente a sociedade. “Há um fenômeno global de secularização da sociedade. Para muitos, o conhecimento dessa cultura não é mais de grande interesse. Tornou-se uma língua estrangeira, até desconhecida, para uma grande parte das gerações mais jovens”, afirma Jérôme Fourquet. “Também há pouco ensino de cultura religiosa nas escolas públicas. Assim, o nível de conhecimento desses temas também depende muito do nível de estudo.”
Também se poderia pensar que os movimentos de oposição às leis da bioética ou dos direitos sociais, como o casamento para todos ou a extensão da procriação medicamente assistida, dariam um novo impulso à ala cristã (católica) menos progressista. Mas não foi assim.
“Esses fiéis têm a impressão de pertencer a um grupo de pouca importância. Estão cientes de que, apesar da sua oposição, leis contrárias às suas convicções foram aprovadas”, lembra Jérôme Fourquet. Em suma, uma espécie de constatação da derrota.
O catolicismo, a principal religião, por exemplo, é a mais afetada pelo fenômeno do afastamento como população. Ela sofre com a competição do culto evangélico, cujos praticantes são cada vez mais numerosos, mas também do Islã. “O culto católico é cada vez menos notado, mesmo entre os mais religiosos. Ao mesmo tempo, religiões como o Islã estão se espalhando e se estruturando”, confirma Fourquet.