PT é o fenômeno maldito para a direita brasileira. Por Emir Sader

Atualizado em 20 de agosto de 2020 às 13:56
Lula na Bahia com estudantes . Foto Ricardo Stuckert

Não era para ter existido. Existindo, não era para dar certo. Dando certo, era para terminar sendo derrotado. Mas não.

O PT nasceu, teve tropeços, se recuperou, avançou, se consolidou, foi submetido às provas de governos – prefeituras, governos de Estado, finalmente, Presidência do Brasil – e deu certo. Sofreu golpe, foi reprimido, condenado, teve dirigentes presos, mas continua a ser o maior e mais importante partido do Brasil.

No país mais desigual do continente mais desigual do mundo, um partido como o PT teria que encontrar seu lugar e encontrou, porque sempre diagnosticou a desigualdades como o maior problema do Brasil. Nasceu na resistência à ditadura, como partido vinculado diretamente aos movimentos sociais. Participou da transição democrática, com uma posição crítica.

O fracasso do governo Sarney confirmou a correção da posição do PT, de que a democratização do país era muito mais do que simplesmente restabelecer o sistema politico liberal.

O impulso democrático nascido na resistência à ditadura, se esgotou, ao não promover reformas estruturais, mas ao se manter no simples restabelecimento da democracia liberal existente antes do golpe de 1964. De tal forma, que Lula quase foi eleito presidente do Brasil, na sua primeira tentativa, ao propor um amplo programa de reformas econômicas, sociais e políticas para o Brasil. Foi preciso a manipulação da Globo para impedir que isso tivesse ocorrido já em 1989.

A chegada fulminante do neoliberalismo, pelas mãos de Collor e sua retomada por FHC, foram apontados, naquele momento, como a maior derrota do PT. Ao mesmo tempo em que desapareciam a URSS e o campo socialista, se propunha que desapareciam também a direita e a esquerda, que o Consenso de Washington e o pensamento único seriam o fim da história, tendo no ajuste fiscal e no receituário neoliberal seu destino inexorável.

A ponto que o Lula foi derrotado duas vezes no primeiro turno por FHC. A proposta do PT de centralidade das politicas sociais foi derrotada três vezes por aquela que apontava a inflação e o ajuste fiscal que a conteria, como a questão central do pais.

O PT finalmente triunfou em 2002, quando conseguiu convencer a maioria do brasileiros de que a questões fundamentais do Brasil são de caráter social – fome, miséria, desigualdade, exclusão social, desemprego, abandono. Ganhou e governou com a prioridade de atacar esses problemas, com o apoio da maioria dos brasileiros, que referendou os governos do PT com vitorias eleitorais democráticas sucessivas. O PT foi o único partido que governou o Brasil sucessivamente com quatro vitórias eleitorais.

Por isso, o PT se tornou o fenômeno maldito para a direita brasileira. Onde a direita fracassou, o PT teve sucesso. Passou a contar com o apoio da maioria do povo, especialmente dos setores populares, os mais necessitados e os mais beneficiados pelos governos petistas.

Para a direita, é o grande fantasma, aquela que lhe tira o sono, porque em democracia foi derrotada por ele quatro vezes. Lula se tornou o maior líder politico do Brasil, enquanto os dirigentes da direita – Collor, FHC, Sarney, Temer, Serra, Alckmin, entre outros – fracassaram e ficaram no esquecimento do povo.

O PT se tornou um patrimônio do Brasil. Um partido popular, democrático, o mais importante do pais, sem o qual não haverá solução para as crises acumuladas pelo Brasil. Por isso, causa tanto medo na direita brasileira, que viola a democracia, que apela para políticos vinculados às milícias, como forma de tentar impedir o que, no fundo lhes parece inevitável – a volta do PT a presidir o Brasil.

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Publicado originalmente no facebook do autor.