Como se expressar, seja escrevendo, seja falando? Essa é uma das questões presentes desde sempre para a humanidade. Na vida profissional ou amorosa, numa apresentação de trabalho a seus chefes na empresa ou numa mera conversa de bar, comunicar-se bem faz toda a diferença. Muitos sábios se detiveram nesse tema. Quase todos condenaram a verborragia, a eloquência desmedida, a suntuosidade verbal. A opção é pela simplicidade e pela brevieda-de. Uma pessoa afetada na maneira de falar ou escrever é afetada, em outras esferas. “A verdade precisa falar uma linguagem simples, sem artifícios”, escreveu um filósofo da Antiguidade.
O filósofo Montaigne (1533-1592) dedicou linhas brilhantes ao assunto em seus Ensaios. Montaigne conta duas histórias instrutivas e divertidas. Numa delas, os embaixadores de uma cidade grega tentavam convencer o rei de Esparta a aderrir a um esforço de guerra. O espartano deixou-os falar longamente. Depois disse: “Não me lembro do começo nem do meio da argumentação de vocês – quanto à conclusão, simplesmente não me interessa”. Na outra história, dois arquitetos atenienses disputavam a honra de construir um grande edifício. A platéia, à qual cabia a escolha, ouviu um grande discurso do primeiro arquiteto. As pessoas já se inclinavam por ele quando o segundo disse apenas: “Senhores atenienses, o que este acaba de dizer eu vou fazer”.
Montaigne cita seu pensador predileto, o romano Sêneca, segundo o qual nos gra-des arroubos da eloquência há “mais ruído do que sentido”. Escreveu Montaigne: “Gosto de uma linguagem simples e pura, a escrita como a falada, e suculenta, e nervosa, breve e concisa, não delicada e louçã, mas veemente e brusca. Uma linguagem não pedante, fradesca ou de advogado, mas de preferência soldadesca como Suetônio qualifica a de Júlio César, embora eu não perceba bem por que”.
Os espartanos eram admirados por Montaigne pela simplicidade com que viviam e se esxpressavam. Ele conta que uma vez perguntaram a uma autoridade de Esparta porque não colocavam por escrto as regras da valentia para que os jovens pudessem lê-las. A resposta foi que os espartanos queriam acostumar seus jovens antes aos feitos do que às palavras: “O mundo é apenas tagarelice e nunca vi homem que não dissesse mais do que me-nos do que devia”, disse Montaigne.
Outro mestre de Montaigne, Plutarco, autor de Vidas Paralelas, mostrou que falar de-mais pode ser perigoso: “A palavra expõe-nos, como nos ensina o divino Platão, aos mais pesados castigos que deuses e homens podem infligir”, disse Plutarco. “Mas o silêncio jamais tem contas a dar. Nâo só não causa sede como confere um traço de nobreza”. Não falar nada é, não raro, a melhor coisa que temos a dizer, mas uma força irresistível parece sempre nos empurrar para o “mundo da tagarelice” tão bem definido por Montaigne. E então estamos condenados a produzir “mais ruído do que sentido” para lembrar a grande sentença de Sêneca.