Publicado originalmente no Tijolaço:
Por Fernando Brito
É estranho que, na data nacional do Brasil, não seja o presidente da República, mas um líder – que, do ponto de vista formal está afastado das disputas políticas por uma perseguição judicial – seja o único que tenha tomado a iniciativa de se posicionar sobre os problemas e desafios de um país que está mergulhado numa gravíssima crise sanitária e econômica, talvez a maior de sua história.
Embora, na sua fala de 23 minutos, Lula tenha abordado um conjunto de temas sanitários, econômicos e sociais, o que mais chama a atenção é algo a que nos desacostumamos a ouvir dos políticos: a ideia de um projeto para o país, um discurso articulado sobre a vida nacional e seus problemas e soluções.
Contra o que diz, os adeptos do bolsonarismo nada dizem senão arremessar uma tempestade de insultos com os mesmo conceitos com que, quatro anos atrás, o powerpoint de Deltan Dallagnol envenenou o debate político no país. Conceitos que, aliás, foram revistos em todas as instâncias judiciais, exceto aquelas que se acorrentaram ao plano de Sergio Moro de usar a Justiça para fazer uma carreira política que, agora, parece ter sido morta pelo homem que levou ao poder.
Mas o mais importante é que, neste país dos xingamentos rasos, das ideias estapafúrdias, dos projetos de destruição em massa do povo e da soberania nacional, da negação da civilidade e da ciência, ouviu-se alguém dizer que é preciso reconstruir o Brasil.
Não é preciso achar Lula perfeito. Mas é imperioso que se o veja como a referência restante de um período em que o Brasil apostou na soberania, no desenvolvimento, na inclusão e na justiça social como o peças necessárias e indispensáveis a que este país e seu povo tenham um futuro que não sejam a fragmentação e a vassalagem.