Publicado originalmente na Rede Brasil Atual
No período 2017-2018 – ou seja, após o impeachment de Dilma Rousseff –, de 68,9 milhões de domicílios no país, 25,3 milhões (36,7%) estavam com algum grau de insegurança alimentar, segundo o IBGE. Eram quase 85 milhões de pessoas nessa situação. Os casos mais graves têm predominância de mulheres e negros.
Esse indicador vinha melhorando desde 2004, conforme mostram os dados divulgados nesta quinta-feira (17), que fazem parte da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Naquele ano, 34,9% dos domicílios tinham algum grau de insegurança (leve, moderada ou grave). Em 2009, cai para 30,2% e em 2013, para 22,6%. Os casos considerados graves passaram de 6,9%, em 2004, para 5% e 3,2%, respectivamente. Agora, subiu para 4,6%, sendo 7,1% na área rural e 4,1% na urbana. (Leia no final do texto a definição do IBGE para cada situação.)
Fome: experiência vivida
Isso significa que 3,1 milhões de domicílios no Brasil têm nível considerado grave de insegurança alimentar. “Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio”, afirma o IBGE. Para 16,4 milhões (24%), grau leve e para 6,6 milhões (8,1%), moderado.
Em número de pessoas, 122,2 milhões moravam em domicílios com segurança alimentar e 84,9 milhões – 41% da população –, com alguma insegurança. Desses, 56 milhões estavam em domicílios com insegurança alimentar leve, 18,6 milhões em nível classificado de moderado e 10,3 milhões, grave.
Piora em todos os casos
Assim, aponta o IBGE, a segurança alimentar prevalecia em 65,1% dos domicílios em 2004. Aumentou para 69,8% em 2009 e para 77,4% em 2013. Agora cai para 63,3%. A alta da insegurança aconteceu nos três níveis. Na comparação com 2013, a leve subiu 62,2%, a moderada aumentou 76,1% e a grave, 43,7%.
Dos 68,9 milhões de domicílios estimados, 59,4 milhões estavam em área urbana e 9,5 milhões, em área rural. A segurança alimentar era de 64,9% no primeiro caso e de 53,6% no segundo.
Nas regiões Norte (43%) e Nordeste (49,7%), menos da metade dos domicílios tinha “acesso pleno e regular aos alimentos”. O indicador era melhor nas regiões Centro-Oeste (64,8%), Sudeste (68,8%) e Sul (79,3%).
Sem esgoto, sem luz, sem gás
Nos domicílios com insegurança moderada ou grave, menos da metade tem rede de esgoto. As famílias usavam lenha ou carvão para preparar alimentos em 30% das moradias com insegurança moderada e 33,4% nos casos graves. Também nessa última situação, só 33,5% usavam energia elétrica.
Entre as moradias com segurança, 98% usavam gás encanado ou de botijão. Já entre aquelas com insegurança, 96,9% não usavam.
Melhor para homens e brancos
“Nos domicílios em condição de segurança alimentar, predominam os homens como pessoa de referência (61,4%)”, diz o IBGE. “Essa prevalência vai se invertendo conforme aumenta o grau de insegurança alimentar”, acrescenta o instituto. Nos domicílios com insegurança grave, as mulheres era referência em mais da metade (51,9%).
Isso acontece também no recorte racial. Os brancos eram referência em 51,5% dos domicílios com segurança alimentar. Os pardos (classificação do IBGE) predominavam entre aqueles com insegurança grave (58,1%).
Definições do IBGE
Segurança Alimentar: reflete o pleno acesso dos moradores dos domicílios aos alimentos, tanto em quantidade suficiente como em qualidade adequada
Insegurança Alimentar Leve: há preocupação com o acesso aos alimentos no futuro e já se verifica comprometimento da qualidade da alimentação, ou os adultos da família assumem estratégias para manter uma quantidade mínima de alimentos disponível aos seus integrantes.
Moderada: nesse nível de insegurança alimentar os moradores, em especial os adultos, passaram a conviver com restrição quantitativa de alimentos no período de referência.
Grave: significa que houve ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo, quando presentes, as crianças.