Nesta sexta (18), a Magazine Luiza lançou um programa de trainees somente para candidatos negros.
A empresa alegou que pretende criar “mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia” com a iniciativa.
Com isso, a extrema-direita esbravejou e espumou, acusando a empresa de “racismo reverso” por “privilegiar” candidatos negros e não dar espaço a pessoas brancas (situação que durante boa parte da história foi o contrário disso e ninguém se incomodou).
Matéria do Univeritas explica a falácia do racismo reverso:
Com certeza, você já ouviu falar no termo ‘racismo reverso’. Em linhas gerais, ele é definido como atos discriminatórios praticados por minorias sociais ou étnicas contra a maioria. Ou seja, um racismo às avessas. No entanto, engana-se quem acredita que o termo é algo novo.
A expressão surgiu nos Estados Unidos durante o movimento dos direitos civis dos negros – luta da comunidade afro-americana por igualdade e garantias no país -, na década de 1960. À princípio, era mais corriqueiro o uso do termo ‘racismo negro’, em referência a grupos como, por exemplo, os Panteras Negras, e ganha força na década de 1970, em resposta às políticas de ações afirmativas nascidas na época.
A ideia de racismo reverso no Brasil cresce, à medida que as ações afirmativas, como as cotas sociais e raciais, avançam e se consolidam no país. Sem embasamento empírico, o termo é questionado dentro e fora do espaço acadêmico e dá margem para debate.
Para o professor e mestrando em filosofia Salviano Feitoza, a ideia de racismo ‘ao inverso’ é errônea. “O racismo reverso não existe, porque o racismo se caracteriza por um conjunto de elementos apoiados em fatores sociais, políticos, econômicos, religiosos, culturais e simbólicos que estabelecem situações de inferioridade a determinados grupos étnicos. Se eu considero o racismo como parte da construção de uma sociedade, então, o racismo é estrutural. Você tem uma estrutura que é toda construída, apoiada e reproduzida em critérios que colocam em situação de exclusão, de negação de direitos tudo que não é branco”, explica.
Ele ainda ressalta que pessoas brancas e pobres podem sim ser vítimas de discriminação, no entanto, “pela condição estética que apresentam, elas sofrerão bem menos esses elementos que atingem, diretamente, as pessoas negras”, acrescenta.
Nessa discussão, é importante atentar para o conceito de racismo, que é um sistema de opressão, e apoiar-se em uma visão histórica e social que configuram a trajetória dos povos negros. Sendo esta marcada por mais de 300 anos de escravidão, violência, exclusão e negação de direitos.
Mesmo com essas evidências, não é raro encontrar grupos ou pessoas que defendam e perpetuam a existência do racismo reverso. Muitos partem da premissa de que termos como ‘palmito’, entendida como ofensa a pessoas brancas, ou críticas aos privilégios usufruídos por esses é uma preconceito, logo, racismo contra quem tem pele clara.
Para Salviano, esse fato tem relação ao que ele chama de “fragilidade branca”, ou seja, “a dificuldade dessas pessoas [brancas] de lidar com o estresse de seus privilégios serem colocados em xeque. Há dificuldade, especificamente no Brasil, de aceitar esses privilégios e combatê-los, pois, implica mexer naquilo que é confortável para essas pessoas de pele branca”, explica.