Bolsonaro mentiu na ONU, e todos nós brasileiros pagaremos a conta do embuste. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 22 de setembro de 2020 às 12:35
Bolsonaro discursa na Assembleia da ONU – Reprodução

A Secom editou o discurso de Bolsonaro na ONU, na sequência de tuítes que publicou logo depois da fala. No trecho que tratava das supostas ações do governo federal no combate à pandemia, substituiu a transcrição por uma citação indireta.

“Nosso Governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior.” Destacou Auxílio Emergencial, socorro a empresas, estados e municípios, esforços de tratamento e produção de vacina.

No trecho editado pela Secom, Bolsonaro claramente mentiu. Ele disse:

Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior:

– Concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente 1000 dólares para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo;

– Destinou mais de 100 bilhões de dólares para ações de saúde, socorro a pequenas e microempresas, assim como compensou a perda de arrecadação dos estados e municípios;

Sobre a transferência de recursos para Estados e municípios, foram R$ 175 bilhões, e não 100 bilhões de dólares, como ele disse. Se o valor fosse o citado por Bolsonaro, as unidades da federação teriam recebido mais de R$ 500 bilhões.

Sobre o auxílio emergencial, a realidade é que o governo federal queria destinar três parcelas de R$ 200, que somariam pouco mais de de 100 dólares.

O valor foi elevado pelo Congresso Nacional.

Mesmo somando todas as parcelas — cinco de 600 reais, mais quatro de R$ 300 (até dezembro) –, o valor não chega a 1.000 dólares.

O valor total será de R$ 4.200, o que corresponde a menos de 800 dólares. No total.

A mentira de Bolsonaro se soma a outras, como a de dizer que o governo federal assistiu comunidades indígenas no enfrentamento à covid-19, e responsabilizar índios e caboclos pelas queimadas nas florestas.

O resultado é a perda ainda maior de credibilidade do governo brasileiro — não apenas de Bolsonaro, este já totalmente desacreditado.

Governo sem credibilidade atrapalha os negócios e prejudica parceitos, como é o caso no Mercosul.

O acordo com a União Européia certamente não sairá enquanto o Brasil for governado por um indivíduo que não tem o menor compromisso com a verdade factual.