‘Quando um ônibus passa ao lado de carros engarrafados, temos um símbolo de democracia’

Atualizado em 23 de novembro de 2013 às 8:14
Penãlosa em ação
Penãlosa em ação

Escrevi ontem sobre a inoperância, a impotência de figuras como Joaquim Barbosa. É irritante ouvi-lo criticar a justiça como se fosse contínuo do Supremo, e não seu presidente – com poder transformador, portanto.

Vou agora para o lado oposto.

É animador ver pessoas como Enrique Peñalosa, um visionário que promoveu uma revolução em Bogotá quando foi prefeito, no final da década de 1990.

Uma das maiores realizações de Penãlosa se deu numa tragédia urbana contemporânea: a chamada mobilidade urbana.

Em vez de produzir queixumes, ele agiu. Deu ampla, completa, torrencial prioridade ao transporte público. Uma frase sua merece ser lembrada por todo administrador público: “Um ônibus transporta 100 vezes mais passageiros que um carro. Logo, deve ter 100 vezes mais espaço nas ruas.”

Outra frase para anotar: “Quando um ônibus passa ao lado de carros engarrafados, temos um símbolo de democracia”.

Peñalosa, aos 59 anos, hoje consultor de mobilidade urbana, está em São Paulo nestes dias. O DCM torce que ele seja intensamente ouvido – e seguido.

Ele foi personagem de um excelente documentário feito por dinamarqueses, que você pode achar no YouTube. O nome é “Bogotá Change”.

Ali está a história não só dele, mas de seu antecessor, igualmente inovador e brilhante, Antanas Mockus, um acadêmico de origem lituana.

Para alguns a mudança em Bogotá ocorreu a partir de um gesto de Mockus que chacoalhou a Colômbia. Diante das câmaras de televisão, Mockus recebia uma monumental vaia de estudantes numa universidade da qual era reitor.

Ele baixou a calça e mostrou a bunda aos estudantes. Teve que renunciar ao cargo de reitor, mas virou símbolo de mudança. Logo depois, sem apoio de nenhum partido tradicional, virou prefeito de Bogotá.

Quando você vê tipos como os dois, e é paulistano como eu, se dá conta de como São Paulo foi maltratada nos últimos anos por prefeitos ineptos e obsoletos como Serra e Kassab. (Veremos o que Haddad é capaz, ou não, de fazer por São Paulo.)

Mockus e Peñalosa representam o chamado zeitgeist, o espírito do tempo. O discurso de ambos está repleto de menções a coisas como justiça social e igualitarismo.

Democracia, diz Peñalosa, é uma bicicleta de 30 dólares ser tão respeitada no tráfego de uma cidade quanto um carro de 30 000 dólares.

Recomendo fortemente que você veja o vídeo anexado a este texto. Existe, nele, a possibilidade de legenda em português. Ali está, em 15 minutos, a essência da visão urbanística de um homem público com poder transformador – e com discurso e prática de extraordinária força inspiradora.