A denúncia do desvio R$ 7,5 milhões doados para a compra de testes rápidos da Covid-19 supostamente transferidos para o Pátria Voluntária, o programa coordenado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, caiu como uma bomba no Parlamento nesta quinta-feira (1º). Nas redes sociais, políticos, autoridades, famosos e anônimos não pouparam críticas a mais um episódio de corrupção envolvendo o clã presidencial.
A reportagem assinada pela jornalista Constança Rezende, na Folha de S.Paulo, apontou que o frigorífico Marfrig, um dos maiores do país, doou em março R$ 7,5 milhões ao Ministério da Saúde para a compra de 100 mil testes rápidos do coronavírus. O dinheiro, entretanto, não foi usado para essa finalidade. E uma vez nas mãos de Michelle Bolsonaro, foi repassado sem qualquer edital para instituições evangélicas ligadas à ministra Damares Alves, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.
Para o vice-líder do PCdoB, o deputado federal Márcio Jerry (MA), a revelação é mais uma prova das ilegalidades cometidas pelo presidente e sua família. “Bolsonaro é desonesto, genocida, aliado do coronavírus. Ele acaba de cometer mais um crime! Mas pode chamar também de mamata doméstica, de irresponsabilidade total com a saúde da população, de depravação administrativa. Era pra fazer teste de Covid 19, mas Bolsonaro entregou para a mulher fazer não se sabe ao certo o que. É o cúmulo da mamata em tempos de pandemia. Faz tempo que Bolsonaro ultrapassou os limites da decência mínima”, declarou o parlamentar.
O PCdoB, a partir de sua líder na Câmara, deputada federal Perpétua Almeida (AC), afirmou que pedirá investigação imediata para apurar o paradeiro do montante que deveria ter sido destinado à saúde nacional. A sigla também protocolou pedido de informações direcionado ao ministro da Casa Civil, Braga Neto, e encaminhou representação ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Depois dos R$ 89 mil
Líder do PSB na Câmara, o deputado federal Alessandro Molon (RJ) adaptou o caso para refazer uma das perguntas mais repetidas neste segundo semestre de 2020. “Presidente Jair Bolsonaro, por que o senhor desviou a finalidade de R$7,5 milhões doados para compra de testes de Covid-19 e repassou o dinheiro para o projeto de sua esposa Michelle no auge da pandemia?”, questionou.
Candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos recordou o esquema de ‘rachadinha’ montado no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), no período em que foi deputado estadual no Rio, e a acusação do Ministério Público que o apontou como líder da organização criminosa.
“Governo Bolsonaro repassou ao programa de Michelle R$ 7,5 milhões doados para testes de Covid. Desviavam dinheiro de assessor fantasma no Rio de Janeiro, agora desviam dinheiro que salvaria vidas no meio de uma pandemia!”, apontou Boulos.
Pelas redes sociais, o PSOL afirmou também que irá acionar o TCU e o Ministério Público Federal (MPF) para investigar a denúncia.
Brasil, segundo no ranking de mortes pela Covid
Já a deputada federal Margarida Salomão (PT-MG) relembrou a posição do Brasil no ranking de países que mais registraram vítimas fatais durante a pandemia para demonstrar a gravidade da situação. “Um dos países que fez menos testes de Covid-19. Segundo lugar em número de mortes no mundo. Cabe questionar: quantas mortes teriam sido evitadas se os R$7,5 milhões para a compra de testes rápidos para Covid-19 não tivessem sido desviados?”, indagou.
Companheiro de partido, o deputado Nilto Tatto (PT-SP) disse acreditar que novas denúncias de ilegalidades envolvendo o presidente virão. “Pedalada é crime de responsabilidade e dá impeachment. Já desviar recursos da saúde, em plena pandemia, tá ok! Agora faz arminha com a mão e diz que combate a corrupção! R$7,5 milhões. Espera que vem mais”, comentou, prevendo mais escândalos.
Desrespeito
Deputado Túlio Gadelha (PDT-PE) foi mais um parlamentar a criticar a postura do presidente no auge da crise sanitária. “Bolsonaro impediu em março – auge da pandemia da Covid-19 – a compra de 100 mil testes rápidos da doença. Ele simplesmente desviou R$ 7,5 milhões doados por uma empresa para este fim, repassando a verba para o programa da primeira-dama. Um claro desrespeito à vida do brasileiro”, resumiu.
No Senado, o líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que o desfalque é um atentado à vida dos brasileiros. “Desviar R$ 7,5 milhões do combate à pandemia, que seriam para salvar vidas e mandar para o programa de Michelle, a esposa do presidente, é mais do que imoralidade, é investimento direto na morte de milhares de pessoas! Como Jair Bolsonaro explicará isso?”, questionou.
E não é a primeira vez…
O atual líder do PT no Senado, senador Rogério Carvalho (SE) recobrou a memória dos internautas, ao lembrar dos R$ 89 mil depositados pelo ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, na conta da primeira-dama. “Essa não é a primeira vez que dinheiro vai misteriosamente parar nas contas de Michelle. Lamentável!”, definiu.
Presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire chamou a atenção para os detalhes sórdidos do caso. “Se não bastasse, fornido com 7,5 milhões da Marfrig, o Pátria Voluntária de Michelle repassou recursos pra ONGs ligadas a Damares. Uma delas tem o mesmo endereço de registro da Atini, fundada pela ministra. Só que lá funciona um restaurante. Dizem: de boas intenções, o inferno está cheio”.
Todo dia um 7,5 x 1
O ator Gregório Duvivier, o influenciador digital Felipe Neto e a apresentadora do GNT, Rita Lobo, também comentaram o assunto. Em seu Twitter, Rita escreveu: “Todo dia um 7 x 1 diferente. Hoje, por exemplo: 7,5 x 1”, ironizou.
Questionada pela Folha, a Casa Civil não se pronunciou sobre o assunto.