A ausência de Paulo Coelho sempre preencherá alguma coisa.
Essa frase me ocorreu quando soube da decisão de Paulo Coelho de não participar da (enorme) delegação brasileira que estará na Feira de Livros de Frankfurt. Nela, a literatura brasileira receberá uma homenagem especial dos organizadores alemães.
Paulo Coelho está protestando. Embora incluído, ele não gostou da lista de 70 escritores convidados pelo Ministério da Cultura para viajar para Frankfurt. Disse que só conhecia 20 dos 70.
Ele acusou os responsáveis pela lista de nepotismo. Algumas pessoas teriam sido convidadas por serem “amigas”. E o engraçado é que Paulo Coelho respondeu ao alegado nepotismo com nepotismo descarado: ele tentou enfiar na lista alguns escritores.
Não conseguiu. E em protesto saiu da delegação. Numa entrevista a um jornal alemão, ele anunciou a decisão, e aproveitou para falar mal do Brasil. Disse que no exterior sempre lhe perguntam o que aconteceu com o Brasil.
Ele poderia responder brevemente: “Aconteceu uma ditadura militar que nos tornou campeões mundiais de desigualdade.” Mas prefere responder com platitudes demoradas que fogem da essência do problema e parecem nascidas da leitura dos editoriais do Globo.
Uma alma mais cínica poderia sugerir a ele um acréscimo na resposta: “Aconteci eu, também.”
Paulo Coelho foi mal no episódio. Mas involuntariamente ele faz refletir sobre a extravagante decisão do Ministério da Cultura de levar 70 escritores brasileiros para Frankfurt, com despesas pagas pelo contribuinte.
É muita gente. Para que isso? Temos tantos escritores destacados que justifiquem tamanha quantidade de convites?
Não. Basta ver a lista. E atenção: isto não é uma exclusividade nacional. Peça a um francês que aponte 70 autores de seu país. Ou a um russo. Onde os Tolstois, os Flauberts? Na segunda, na terceira dezena você já não parece ter nomes a citar qualquer que seja sua nacionalidade.
Mesmo numa área em que somos tradicionalmente fortes: o futebol. Encontrar 70 jogadores dignos de uma seleção é uma missão quase impossível. Passe para a música, e a situação não muda.
Sejamos simples. Sejamos frugais. Sejamos parcimoniosos no uso do dinheiro do contribuinte. Sejamos “Mujicas”.
Esta é a principal lição que se tira do caso.