Data vênia, sr. decano, o senhor perdeu. Por Fernando Brito

Atualizado em 9 de outubro de 2020 às 9:39

Publicado no Tijolaço

O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal. Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF

Todas as homenagens ao ministro Celso de Mello que você assistiu esta semana desaguaram ontem no teatrinho montado para que a maioria do Supremo Tribunal Federal possa dar um voto contrário ao seu na questão do depoimento presencial de Jair Bolsonaro no inquérito que apura as denúncias de Sergio Moro sobre interferências indevidas do presidente na Polícia Federal.

Semana que vem, talvez na seguinte, já sem a presença – mesmo que virtual – de Mello todos poderão divergir dele e autorizar que tudo vire um simples questionário sem que causem melindres ao agora ex-decano da Corte.

Até mesmo o argumento de que a defesa do presidente pôde inquirir Moro durante seu interrogatório será contornado pela possibilidade de que o ex-juiz formule quesitos a serem respondidos, também por escrito, junto com as questões formuladas pela autoridade policial.

É mais um momento de politização avassaladora de um tribunal que, embora sempre político, não deveria ser avassalado pela política.

Simples assim: Celso de Mello preserva o seu orgulho e a vida segue, como o Chantecler, da fábula de Rostand, seguia na cresça de que o sol nascia chamado pelo seu cantar de galo todas as manhãs. Os galos do Supremo, antes poderosos para deixar depor o firmamento, agora viraram satélites do governo, ainda que em órbitas elíticas: ora mais próximas, ora mais distantes.

As atividades jurisdicionais mais importantes, hoje, passaram a ser jantares, abraços e até tomar cerveja ou tubaína com o Presidente da República.

Ou, ao revés, mudar a distribuição de competência das turmas e do plenário para que, além do “mito” planaltino, também o “mito curitibano” seja preservado até o tempo político conveniente, ainda que inexorável, de sua demolição em nome do rei.