Publicado originalmente no Tijolaço:
Por Fernando Brito
A defesa feita hoje pela Ministra da Agricultura, Teresa Cristina, de que é a “queda” no tamanho dos rebanhos bovinos na região do Pantanal uma das responsáveis pelo recorde de incêndios naquele bioma, pois bois e vacas estariam deixando de “podar” o capim e, assim, facilitando a ignição da palha seca é mais uma das bobagens criadas pelo bolsonarismo, sem qualquer base científica, para procurar justificar a predação ambiental em nome da atividade econômica.
Não existe em lugar algum no mundo, salvo na cabeça de um técnico da Embrapa, que resolveu criar esta tese pró-ruralistas, nada que sustente esta visão. Até os materiais do Ministério da Agricultura que tratam de recuperação de matas e pastagens nativas apontam como um dos principais custos dos programas de restauração de vegetação a instalação de cercas para evitar a entrada de gado em áreas que estão sendo ou que se pretende recompor, porque eles destroem as mudas pequenas.
Ao contrário, a formação de pastagens já abrange mais da metade das áreas de cerrados e para implantá-las uma das técnicas é a de atear fogo à cobertura nativa, uma prática perigosa, que exige cuidados e autorizações oficiais e, ainda assim, é inadmissível na estação seca que a região atravessa. Mas, exatamente por ser mais fácil, queima-se no período seco e quente para abrir áreas a pastos formados.
Também não é verdade que a ausência dos “bois bombeiros” pudesse se dever a questões ambientais. Primeiro, a queda no rebanho foi ínfima – 0,4% no Centro-Oeste, que soma mais de 52 milhões de cabeças. Para se compreender mais facilmente, significaria haver 99 bois onde havia 100 e, é claro, ele não fará diferença no volume de massa verde da região, a menos que o boi faltante seja o próprio “bombeiro”. Segundo, porque ela se deu pelo aumento do abate provocado pela elevação do preço e das exportações de carne.
Teresa Cristina apenas repetiu bovinamente o que o “boiadeiro” Ricardo Sales disse ao ser “entrevistado” pelo filho do presidente, em agosto, dizendo que o criador de gado que o solta para engorda – e não raramente sobre áreas de preservação – “está sendo perseguido”.
Falta pouco para que esta gente acabe provocando movimentos internacionais de boicote à carne brasileira.