O casamento de conveniência entre Marina e Eduardo Campos produziu, instantaneamente, um órfão: Aécio.
Ninguém parece muito disposto a ouvir o “papo reto” de Aécio.
É meia verdade dizer que a dupla Marina-Campos rompe uma polarização crônica na política do país. Mais precisamente, o que aconteceu é que surgiu uma nova polarização, da qual o PSDB está fora. A situação é Dilma e a oposição é Marina e Eduardo Campos.
O PSDB, com seu discurso tão velho quanto o bigode de Rio Branco, deve se dar por feliz se conseguir manter o governo de São Paulo em 2014. Alckmin terá em Padilha um rival duro de bater: é um nome novo, vem se destacando no Ministério da Saúde e chega embalado pelo sucesso do programa Mais Médicos.
Disse algumas vezes que o PSDB precisa de um Bergoglio para se reinventar. Mas, aparentemente, não existe um Bergoglio nos quadros tucanos.
Em vez disso, o PSDB tem Serra e Aécio, anti-Bergoglios por excelência, dois homens que em vez de correr para os pobres em busca de salvação política vão atrás dos ricos. Esse caminho invertido dá mídia, mas não dá votos.
O centro da oposição deslocou-se do PSDB rumo a Marina e Eduardo Campos. Há ainda muitas dúvidas. É difícil crer que Marina seja vice sendo quatro ou cinco vezes mais popular que Campos.
Faz mais sentido Marina ser candidata, e Campos sair para senador. Gente próxima dele diz que ele se julga predestinado à presidência, mas isso pode esperar um pouco mais.
Com Marina na cabeça, a chapa é boa, e pode eventualmente provocar um segundo turno. Com Campos à frente, ficam enormes as chances de tudo terminar no primeiro turno.
Caso isso aconteça, e Dilma tenha mais quatro anos, a expectativa é que ela faça bem mais do que no primeiro mandato para diminuir a desigualdade.
O Brasil parece exausto de ser um eterno campeão de desigualdade social. As Jornadas de Junho do Movimento Passe Livre mostraram a indignação coletiva nacional.
Hoje, em mais uma demonstração do cansaço brasileiro com tanta injustiça, e tão baixa velocidade em corrigi-la, o escritor Luiz Ruffato produziu na Feira de Frankfurt um discurso que foi, na realidade, um manifesto, um berro, um monumental basta.
Ruffato enumerou as iniquidades brasileiras, e em sua indignação tonitruante em solo alemão ele se agigantou. Por momentos foi um Vítor Hugo moderno que põe a arte a serviço dos miseráveis. Acabou falando em nome de todos os brasileiros que acreditam num Brasil melhor – bem melhor — do que este que temos. Aquilo que ele disse sim é um “papo reto”, não o blablablá soporífero de Aécio.