Publicado originalmente no Brasil de Fato:
Por Cristiane Sampaio
Em novas manifestações sobre a demanda para se estender o auxílio emergencial de R$ 600, que teve redução de 50% no valor, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu mais uma sinalização, nesta segunda-feira (19), de que não pretende ceder à pressão política e popular. Ele afirmou que o valor “é muito para o Brasil”.
“Sei que os R$ 600 são pouco para quem recebe, mas é muito para o Brasil, dá R$ 50 bilhões por mês. Tem que ter responsabilidade para usar a caneta Bic aí. Não dá para viver, ficar muito tempo mais com este auxílio porque, realmente, o endividamento nosso é monstruoso”, disse a apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, em Brasília (DF).
Assim como o chefe do Executivo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem feito manifestações de resistência à continuidade do benefício com o valor reivindicado. Nesta segunda, após uma reportagem da CNN indicar que ele não seria contrário à manutenção do auxílio, Maia negou a informação e recuperou o discurso do ajuste fiscal.
“Eu não disse isso. Já deixei claro publicamente que sou contra a prorrogação do decreto de calamidade e que é preciso encontrar uma solução dentro do Teto de Gastos”, disse. A declaração é mais um aceno ao mercado financeiro e a outros investidores que monitoram os movimentos do governo e pressionam pela manutenção da agenda ultraliberal. Na gestão Bolsonaro, a cartilha é conduzida especialmente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que desde o início dos debates sobre o auxílio tem manifestado oposição à proposta.
“Governo nunca quis”
“Esse jogo vem sendo jogado desde sempre. Se a gente pegar o histórico do auxílio, a gente vê que o governo vem jogando com as pessoas, até por sobrevivência. É sempre importante a gente dizer que o governo nunca quis os R$ 600 nem os R$1.200 [duas cotas] pra mães solo. Ele lutou até o último minuto pra que não fosse esse valor”, relembra a diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, Paola Carvalho.
Paralelamente, o governo tenta evitar que o Congresso Nacional vote a Medida Provisória nº 1.000, que institui o valor de R$ 300 até dezembro. Por ser uma MP, o texto tem efeitos imediatos, o que faz com que o auxílio já tenha entrado em vigor sem a anuência do Legislativo. Nos bastidores, a estratégia do governo é escapar de um eventual aumento da quantia, já que o parlamento tem a prerrogativa de fazer esse tipo de alteração.
A demanda pelo aumento do valor encontra apoio em parlamentares de diferentes siglas, mas a batalha se concentra nos partidos mais próximos da esquerda, que são PT, PSB, PDT, Psol e Rede. O líder da bancada pessebista na Câmara, Alessandro Molon (RJ), por exemplo, reagiu à nova manifestação do presidente.
“Não se enganem. Bolsonaro nunca se comprometeu de verdade com quem mais precisa. É por isso que ele não faz a menor questão de manter o auxílio emergencial em R$600 enquanto a pandemia durar”, criticou, em nota publicada na noite desta segunda.