Originalmente publicado em JEFFERSON MIOLA
Por Jeferson Miola
As pesquisas eleitorais em cidades de diferentes regiões do país relativas ao 1º período da campanha eleitoral no rádio e na TV [9 a 23/10] mostram crescimento das candidaturas de esquerda e progressistas, e queda das candidaturas bolsonaristas e/ou associadas a Bolsonaro.
Mas, como se percebeu em 2016 – e, principalmente, na eleição de 2018 – a manipulação criminosa das redes sociais e mídias digitais pela extrema-direita pode reservar surpresas inimagináveis, que contrariam as estimativas dos institutos de pesquisa.
Além disso, as restrições sanitárias impostas pela pandemia acrescentam um componente de maior imponderabilidade à eleição deste ano.
É prematuro, portanto, considerar que o cenário referido – ascenso da esquerda/descenso eleitoral do bolsonarismo – estejam cristalizados. Por outro lado, não se pode desprezar os elementos da conjuntura eleitoral que reforçam esta tendência.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, a chapa Boulos e Erundina/PSOL ocupa a 3ª posição com 14% [Datafolha], livrando vantagem de 4% em relação ao concorrente mais próximo. Com um detalhe importante: Russomano, o candidato do Bolsonaro, cumpre a sina de sempre, e derrete a olhos vistos.
Russomano poderá ser logo ultrapassado por Boulos, que hoje tem reais chances de ir ao 2º turno contra Bruno Covas, do PSDB – partido que, embora aparente certo incômodo com a podridão do clã miliciano e negue ser bolsonarista, sustenta e aprova todas políticas regressivas e de destruição do país aprovadas por Bolsonaro no Congresso.
Na cidade do Rio o bolsonarista Crivella, cuja candidatura estaria cassada se os bolsonaristas não tivessem sua “justissa” eleitoral de estimação que mantém a candidatura dele ao mesmo tempo que cassa a candidatura à vereança do Lindberg Farias/PT, oscila entre a estabilidade e a queda lenta, porém persistente.
Eduardo Paes, do DEM do também bolsonarista Rodrigo Maia, o engavetador de mais de 60 pedidos de impeachment do criminoso na Câmara, segue estagnado e com a seta para baixo, enquanto Martha Rocha/PDT e Benedita da Silva/PT crescem.
No Recife o candidato João Campos, que é tratado com as reverências de descendente dinástico e recebe R$ 7,5 milhões de fundo partidário do PSB, tem 31% das intenções de voto [Datafolha]. A candidata Marília Arraes/PT figura como disputante do 2º turno – com a vantagem de ter 50% menos de rejeição que seu primo João. Enquanto isso, as candidaturas da oligarquia bolsonarista vão ficando para atrás.
Em Fortaleza o policial militar bolsonarista Capitão Wagner, que a essas alturas deveria estar cumprindo pena de prisão por ter liderado, no ano passado, a rebelião criminosa da PM do Ceará que resultou no tiro desferido contra o senador Cid Gomes e que foi apoiada pelo então ministro Sérgio Moro e pelo chefe da Força Nacional bolsonarista, aparece liderando com 31%.
Atrás do jagunço bolsonarista; mas, contudo, à frente do cirista José Sarto/PDT [15%], a ex-prefeita Luizianne Lins/PT avança para o 2º turno, com 24%.
Em Belém/Pará Edmilson Rodrigues, numa aliança do PSOL com o PT e o PCdoB, lidera com larga vantagem em relação aos demais candidatos, podendo ser eleito no 1º turno.
Em Porto Alegre, capital mais meridional do Brasil, Manuela e Rossetto, numa chapa encabeçada pelo PCdoB com o PT de vice, lidera com folga o 1º turno. Manuela representa a mudança desejada pela maioria da população, enfarada de 16 anos de retrocessos e abandonos promovidos pelo condomínio partidário de direita e extrema-direita que neste período todo se revezou na destruição da capital gaúcha e na regressão da imagem da cidade que um dia já foi inspiração para o Fórum Social Mundial.
O dado novo é a pesquisa que projeta Manuela vencendo todos adversários no 2º turno com 40% – ou seja, ela ultrapassa o teto da votação da esquerda no 1º turno, que está ao redor de 30%.
Este extrato de diferentes realidades regionais não caracteriza a realidade de um país tão heterogêneo e diverso como o Brasil, é verdade; mas pode ser a sentinela de uma onda de resistência e mudança que avança no país.
Não faltam motivos para esta onda que poderá produzir uma resposta dura ao bolsonarismo, a suas políticas, a seus desatinos e a seus candidatos no 15 de novembro.
A posição irresponsável e ideológica do Bolsonaro em relação à vacina, assim como a luta antirracista, combinada com a questão do gênero, estão entre os fatores que contribuem para este cenário.
Esta conjuntura eleitoral, se confirmada nas próximas semanas, abrirá caminho para a recomposição das forças do campo democrático-popular e inaugurará uma nova dinâmica na resistência ao fascismo e seu projeto antipopular, antinacional e antidemocrático.