A morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida em 25 de outubro de 1975, completa 45 anos neste domingo (25).
Seu provável assassinato transformou-se em um símbolo do fim da ditadura. Herzog foi encontrado morto, com o pescoço amarrado a uma janela, nas instalações do Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo.
A morte dele gerou uma onda de protestos de toda a imprensa mundial e impulsionou o movimento pelo fim da ditadura militar brasileira, que durou 21 anos. Vladimir Herzog nasceu em 27 de junho de 1937 em Osijek (na época, Iugoslávia), filho de descendentes de judeus. Seus pais fugiram da Europa nos aos 40, para figur do regime nazista, e vieram para o Brasil. Ele passou a assinar como Vladimir Herzog. Na década de 1970, foi diretor do departamento de telejornalismo da TV Cultura e professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).
Militante do Partido Comunista Brasileiro, o jornalista virou alvo do regime ditatorial brasileiro, principalmente nos anos 70. Em 24 de outubro, ele se apesentou ao Dio-Codi no quartel-general do II Exército, em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o Partido. No dia seguinte, estava morto. Num primeiro momento, o Serviço Nacional de Informações (SNI) divulgou a informação de que ele tinha cometido suicídio.
De acordo com o Laudo de Encontro de Cadáver expedido pela Polícia Técnica de São Paulo, Herzog havia se enforcado com a cinta do macacão que usava, amarrada a uma grade a 1,63 metro de altura. Contudo, o macacão dos prisioneiros do Doi-Codi não tinha cinto, nem os sapatos tinham cordões. No laudo, foram anexadas fotos que mostravam os pés do prisioneiro tocando o chão, com os joelhos dobrados – nessa posição, o enforcamento era impossível. Foi também constatada a existência de duas marcas no pescoço, típicas de estrangulamento.
Seu falecimento iniciou um processo internacional em prol dos direitos humanos na América Latina, em especial no Brasil. Diante da situação de não saber se Herzog havia se suicidado ou se havia sido morto pelo regime militar, houve comportamentos e atitudes sociais de revolução. Em 2013, a família de Herzog recebeu um novo atestado de óbito, substituindo a causa da morte, de “asfixia mecânica por enforcamento” para “lesões e maus tratos”.
O caso só foi julgado na Corte Interamericana de Direitos Humanos em 2016. E a sentença só saiu 2018: o Estado brasileiro foi condenado devido à falta de investigação, julgamento e punição dos envolvidos no assassinato do jornalista. Em 2020, contudo, o juiz federal Alessandro Diaferia, da 1ª Vara Criminal Federal de São Paulo, rejeitou denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal contra seis pessoas acusadas de participar da morte e falsificação de laudo médico do jornalista: o comandante Audir Santos Maciel, os chefes de comando da 2ª seção do Estado-Maior do II Exército José Barros Paes e Altair Casadei, os médicos legistas Harry Shibata e Arildo de Toledo Viana e o representante do Ministério Público Militar responsável pelo caso, Durval Ayrton Moura de Araújo.
O nome de Herzog está nos Trending Topics do Twitter com mais de 1,7 mil menções. Confira algumas das reações de políticos e influenciadores.
Hoje é o Dia da Democracia. Essa data foi escolhido por ser o dia do assassinato de Vladimir Herzog, símbolo da luta contra a ditadura militar. 45 anos depois, nós temos um presidente que rasga a Constituição diariamente. Mais do que nunca, precisamos defender a democracia.
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) October 25, 2020
Hoje, há 45 anos, a ditaduta militar assassinava o jornalista Vladimir Herzog! Ele foi morto dps de dias de torturas abjetas, que hoje o presidente glorifica em seus discursos! Que sua memória sirva para combater essas práticas e aqueles q a defendem!
Ditadura nunca mais! ✊? pic.twitter.com/SZwnCAOv7F
— Ana Mielke ✊??? (@anacmielke) October 25, 2020
25 outubro de 1975 saiu Vladimir Herzog de casa para prestar depoimento no DOI-CODI-II Exército e nunca mais ser visto com vida.
Barbaramente torturado por pervertidos fardados, teve ainda sua morte falseada como suicídio pelos covardes militares, os de sempre.#VladoPresente pic.twitter.com/aBsFVSRYV9— Toni Bulhoes (@ToniBulhoes) October 25, 2020
https://twitter.com/delucca/status/1320355683682996224
Vladimir Herzog: presente hoje e sempre!
? “Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerar seres humanos civilizados.” pic.twitter.com/knvzxgFNPH
— MST Oficial (@MST_Oficial) October 25, 2020
Hoje é Dia Nacional da Democracia Brasileira! A data é em memória ao jornalista Vladimir Herzog, assassinado na ditadura. É um momento p/ fortalecermos a defesa das nossas instituições e aprimorar nossas ferramentas democráticas. A defesa da nossa CF é fundamental! Herzog vive!
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) October 25, 2020