A Petrobras pediu para ser aceita como assistente de acusação no mais recente processo aberto pela Lava Jato em Curitiba.
A notícia já seria estranha se se considerar que, nos EUA, a Petrobras admitiu que é culpada pelos casos de corrupção revelados na empresa.
Se ela se declarou culpada nos EUA, para pagar indenização bilionária, como pode se apresentar como vítima no Brasil?
É incoerente.
Mas, desde Sergio Moro, a Petrobras foi aceita como assistente de acusação nos processos da Lava Jato.
E, desde então, não se conhece nenhuma ação de destaque do escritório de advocacia que representa a empresa controlada pelo governo federal nesses processos.
Exceto uma.
Em 10 de maio de 2017, o veterano René Ariel Dotti, chefe do escritório que representa a Petrobras, fez uma defesa passional do então juiz, num ataque ao advogado Cristiano Zanin Martins.
“Parece que não se respeita a autoridade do juiz do caso. É evidente isso”, disse, em tom exaltado, durante o primeiro depoimento de Lula.
Zanin havia apresentado objeção a uma pergunta de Moro sobre a abordagem política que uma testemunha fazia durante uma audiência.
Testemunhas revelam supostos fatos, não fazem interpretação de fatos.
Mais tarde, Zanin seria homenageado por mais de uma centena de criminalistas em razão da agressão verbal de Ariel Dotti.
Apesar do pouco volume de trabalho relevante apresentado, o escritório do jurista tem um contrato milionário com a Petrobras.
Assinado em dezembro de 2014, ainda na gestão de Graça Foster (que, registre-se, nunca foi denunciada pela Lava Jato), o contrato previu pagamento de 3 milhões de reais ao escritório, mais 100 mil reais por ação em que fosse habilitado como assistente de acusação.
Bingo.
Caso a Petrobras seja aceita no quarto processo da Lava Jato contra Lula, relacionado a doações legais da Odebrecht, o escritório terá mais um capilé de R$ 100 mil em uma conta que já passou de R$ 14 milhões liberados pela Petrobras.
É que, além dos processos contra Lula, o escritório já foi habilitado em outros 110 processos que envolvem a empresa.
A relação do escritório de Ariel Dotti com a Lava Jato vai além dos casos que tramitam em Curitiba.
Em junho, quando o DCM revelou com exclusividade a existência do contrato, soube-se que o escritório estava defendendo também Carlos Zucolotto Júnior, mencionado na Procuradoria Geral da República como delatado em um possível acordo com Rodrigo Tacla Durán.
Tacla Durán já revelou, com documentos que podem ser entendidos como provas, que Zucolotto Júnior tentou lhe vender facilidades na Lava Jato.
E Zucolotto Júnior não é um profissional qualquer.
Embora seja advogado, se registrou como lobista profissional logo depois que Moro foi anunciado como ministro de Jair Bolsonaro.
Ele é padrinho de casamento do ex-juiz e também ex-sócio de Rosângela Moro.
Pela negociação de vantagens na Lava Jato, um suposto parceiro de Zucolotto, o advogado Marlus Arns, recebeu de Tacla Durán US$ 612 mil, o equivalente a R$ 3,5 milhões.
“Paguei para não ser preso”, disse Tacla Durán, que tem em seu poder o documento da transferência do dinheiro.
Marlus Arns já foi procurado para falar sobre o episódio, mas não se manifestou.
O escritório de Ariel Dotti foi procurado pelo DCM e disse:
- não há conflito de interesses na representação do Sr. Carlos Zucolotto Júnior;
- a contratação do Escritório pela Petrobras deu-se em estrita consonância com a legislação.
A Lava Jato provocou estragos gigantescos na Petrobras e também na economia brasileira.
Mas, para alguns poucos, ela foi uma excelente oportunidade de negócios, inclusive de negócios jurídicos lícitos.